Níveis

Desde que vim de Istambul e até ao Natal, a minha vida assemelha-se a um videojogo: a cada tarefa executada vou passando de nível. Como já tenho a agenda tão cheia até Janeiro, resolvi não me preocupar com os níveis seguintes enquanto não passar aquele em que me encontro. Não é uma abordagem na qual tenha pensado muito, é antes uma espécie de colete salva-vidas. Recuso-me a falar ou a pensar no que tenho a fazer num nível futuro enquanto não arrecadar todas as moedinhas daquele em que me encontro.

Ora, os níveis são:

  • Apresentação no zoom
  • Entrega do livro no Goethe (o que parece uma coisa simples exige uma logística tal que tem direito a todo um nível)
  • Aniversário da Alice
  • Vacina dos 10 anos da Inês (antes que ela faça os 11, pelo menos)
  • Entrega da tradução do livro 1
  • Entrega da tradução do livro 2
  • Aniversário da Inês (só pode fazer depois se tiver levado a vacina!)
  • Aniversário do pai + Natal (como um dia para tratar das prendas não é suficiente: acrescentar outro nível algures)
  • Começar a ler livro para recensão
  • Passagem de ano
  • Entrega da recensão
  • Tradução do livro 3

Supõe-se que continuo a respirar entre níveis.

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Cenas de um casamento

Estamos juntos há catorze anos. Mais do que durou o casamento de Mira e Joseph em Scenes of a Marriage. Já tivemos a nossa crise, se bem que de outro tipo, sobrevivemos a dois confinamentos e a uma perda gestacional. Não posso prever se vamos durar outros catorze, mas comunicamos hoje muito melhor do que há uns anos e nenhum dos dois tem medo de ficar sozinho. Se o amor alguma vez nos faltar, pelo menos sabemos que não ficamos juntos pelas razões erradas.

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Istambul

Escrevo-vos de Istambul, uma cidade sobre a qual não tinha quaisquer ideias pré-concebidas, mas que mesmo assim me está a surpreender, o que não sei se faz sentido.

Os dias que antecederam a viagem foram confusos. Por um lado, a vontade de sair em casal, pela primeira vez desde a pandemia; por outro lado, a dificuldade de deixar as minhas filhas pela primeira vez desde a pandemia. A Alice é quem nos deixa mais apreensivos. É uma criança para quem a família é o pilar que a sustenta e que, quando um de nós está fora, todo o equilíbrio se perde, quanto mais dois. Dizem-me que esta distância lhe faz bem. Que precisa de perceber que nós voltamos e que nada mudou. Forço-me a acreditar que sim, que é mesmo isso.

Istambul talvez seja o sítio ideal para acreditar que tudo está bem. Impossível não nos sentirmos numa espécie de limbo mágico quando se está num sítio em que a Europa e a Ásia se encontram constantemente em perfeita sintonia. Estou a achar isto fabuloso.

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Aparelho

Senti frio pela primeira vez este outono, ao ponto de ter ido a casa mudar de casaco à hora de almoço. Escrever isto a 2 de novembro faz parecer que vivo em Los Angeles ou assim, onde o clima é sempre ameno. Mas é mais assustador do que isso, embora eu ache que viver em LA qualifique como assustador q.b.

Neste dia, aconteceram outras coisas dignas de nota, como a mais velha ter posto aparelho, o que nos dá licença para atirar para o lixo, à vista de todos e não às escondidas como fazíamos nos outros anos, as gomas que sobraram do pão por deus, porque ela agora não pode comer nada dessas porcarias. Curiosamente, ficou mais preocupada em pôr uma foto com o aparelho nos estados do Whatsapp do que com o facto de não poder comer doces nos próximos 18 meses, mas creio que lhe vai cair a ficha em breve e os estados só duram 24 horas.

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Dia das Bruxas

Tive direito a dormir uma hora a mais durante a noite, mas o dia está a ser tão longo que confesso que nem notei. Desde que acordei, já fiz panquecas, orientei dois banhos, trabalhei uma hora, pintei caras duas vezes, ajudei a decorar a casa para o Halloween, fiz salada russa, assei castanhas, torrei umas 14 torradas, joguei Monopólio, vi um filme de animação, vi um episódio da minha série enquanto elas jogavam computador e preparei uma caça do tesouro de doces dentro de casa, porque tem chovido o dia todo e não saímos à rua. Isto tudo e ainda nem sequer jantámos. Como já não sabia o que fazer comigo, fui buscar o Papa Figos de ontem e vim inscrever-me no NaNoWriMo enquanto a lasanha está no forno (das pré-feitas, que não sou assim tão prendada).

Sou capaz de vir aqui menos vezes durante o mês de novembro, ou talvez não, porque gostei da experiência de vir aqui todos os dias escrever qualquer coisa e, apesar de ainda não se ter tornado um hábito, também não o senti como obrigação, por isso é possível que continue. Mas é melhor não fazer promessas.

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