Na era do instantâneo, ir ver pirilampos é a melhor forma de regressar ao “antigamente”. Além de o lusco-fusco ser a melhor hora para os avistar, é completamente inglório tentar tirar uma foto àquelas luzes minúsculas intermitentes. E depois, mesmo que teimem em tentar, vão desistir, porque ver um pirilampo é como entrar numa redoma onde o tempo passa a uma velocidade própria (ou pára?) e nada mais importa. Por isso, o melhor é mesmo guardar o telefone e simplesmente estar.
Na semana que passou, fomos vê-los três vezes com as miúdas, em safari autónomo, a um certo sítio que só nós é que sabemos. Desde que moramos aqui, este foi o primeiro ano em que nos lembrámos a tempo, por isso ainda conseguimos avistar uns quantos de cada vez. É assim bastante mágico, é como voltar a ser criança e acreditar que há uma espécie de mundo paralelo em curso enquanto seguimos um pirilampo com o olhar, com atenção plena. Acho que é esse o efeito da Natureza, quando a deixamos acontecer.
Em Plum Village, o dia começa às 5 da manhã. Ainda de noite e com muito frio, eu e a alemã seguimos juntas, de lanterna na mão, para a primeira actividade da manhã. Ainda estamos indecisas quanto à língua que queremos falar uma com a outra, mas, de qualquer forma, o noble silence só termina no fim da primeira actividade matutina, por isso, a meio do percurso, acabamos por escolher o silêncio. Assim que passamos o portão do New Hamlet, observo, incrédula, a inexistência de pressa àquela hora da manhã. As Irmãs andam devagar, a passo de museu. Imito-as e reparo que toda a gente faz o mesmo.
Às seis horas, começa a meditação guiada, seguida de cânticos e saudações à terra (tradução livre do que me pareceu ser o touching the earth, uma espécie de vénia em que nos ajoelhamos e nos vergamos até tocarmos com os braços e a testa na terra). Supero bem os primeiros 45 minutos de meditação, apesar de os meus joelhos se começarem a queixar e de experimentar um formigueiro atroz nos pés. Nesta altura, eu ainda não sabia que as dores nos joelhos e o formigueiro viriam a piorar nos dias seguintes, de tal maneira que, no final da semana, viria a optar por me sentar numa cadeira durante a meditação…
Depois os cânticos: a tortura, o suplício, a tormenta. Talvez a culpa seja da minha aversão a qualquer forma de expressão religiosa (ainda assim, estava ali, num mosteiro budista), talvez seja do tom monocórdico com que os cânticos eram entoados (uma ladainha que, às seis da manhã, me parecia interminável). O facto é que, durante a semana que lá passei, nunca consegui sentir qualquer prazer a ouvir os cânticos…
Depois de uma hora de meditação, touching the earth e cânticos, ainda há, duas vezes por semana, meia hora de exercício. O exercício é composto por movimentos bastante simples dos braços, pernas e ancas que as Irmãs mandam executar com um sorriso nos lábios. Segunda confissão do dia e ainda só são 7h30: a ginástica das monjas é tão inocente quanto elas. Sorrio interiormente, para logo me recriminar: estás aqui para não julgar.
Finalmente o pequeno-almoço. Como não tinha chegado a tempo da sessão de orientação do primeiro dia, pouco sabia sobre as regras às refeições. Tinha visto no documentário que não se falava durante a refeição. Calculei que houvesse mais regras, por isso limitei-me a observar. Mais tarde nessa manhã, haveria outra sessão de orientação, onde fiquei a par das regras e recomendações, a saber:
As refeições são momentos muito importantes de partilha, que devemos aproveitar para praticar a presença plena e a gratidão. Por isso, não se fala nem há qualquer tipo de distracção. Enquanto comemos, estamos a fazer apenas uma coisa: comer.
Apesar de o almoço ser a refeição mais rígida em termos de regras, devemos esperar sempre que todos os (quatro) lugares da nossa mesa sejam ocupados antes de começarmos a comer. A comida vai ficar fria, mas não podes tocar no prato!
As refeições mais descontraídas são no Lazy Day e na Lazy Evening, em que podemos conversar baixinho e não temos de esperar pelos outros para começarmos a comer.
Devemos mastigar cada garfada umas 30 vezes, aproveitando para apreciar os sabores, sentir a textura, agradecermos a cada pessoa que permitiu que aquela comida nos chegasse à mesa…
No final da refeição, cada um lava e arruma o seu prato e os seus talheres. A lavagem de pratos viria a constituir um dos dois momentos mais stressantes para mim ao longo destes 7 dias. Mas sobre isso falarei mais tarde.
Entre o pequeno-almoço e o almoço havia muitas actividades. Em função dos dias, podia haver uma palestra, uma sessão de perguntas e respostas, a visualização de um vídeo do Thay ou uma sessão de partilha, na qual cada um podia partilhar o que quisesse, do foro pessoal ou não, sobre um tema que era lançado para a mesa. A Irmã servia apenas como moderadora e raramente dava a sua opinião ou conselhos. As Irmãs são, por norma, pessoas muito reservadas, tímidas e caladas. Ainda assim, era possível pedir uma consulta com uma Irmã sénior, mas eu nem sequer pus essa hipótese. Primeiro, porque não tinha exactamente um problema na vida e, por isso, não saberia bem o que dizer. Segundo, porque não conseguia imaginar que conselhos é que uma pessoa que vive fechada num mosteiro há 15, 20 ou 30 anos me poderia dar para os meus problemas mundanos… Mas, continuando, antes de almoço havia, todos os dias, a walking meditation, ou seja, um passeio de 45 minutos a um ritmo bastante lento, mais lento do que o ritmo de museu, tão lento que temos mesmo de obrigar as pernas a não impulsionarem o corpo para a frente. Isto em silêncio e contemplação. Ora bem, eu já tinha visto isto no documentário de que vos falei e achei que me ia dar vontade de rir. E deu. Mas foi só da primeira vez. Porque, com o hábito, passei – eu e toda a gente – a gostar daquelas caminhadas meditativas, em que os passos são dados ao ritmo de 4 ou 5 ciclos respiratórios, em que sentimos cada galho debaixo dos nossos pés e ouvimos os passarinhos a cantar e paramos para apreciar os rebentos das ameixoeiras. Idílico ou ridículo? O facto é que, acreditem, estas caminhadas tinham algo de apaziguador.
Quando regressávamos, era quase sempre hora de almoço, mas tínhamos de esperar que se cumprisse o ritual de tocar o sino. Aliás, parece-me que o budismo é feito de rituais, o que tem o seu lado reconfortante de saber o que se espera. Mas, antes disso, havia sempre tempo para ir buscar a nossa chávena e fazer um chá. Não era só nesta altura que tínhamos tempo para beber chá. O tempo era-nos disponibilizado como algo essencial, garantido. Os próprios horários estavam feitos de forma a evitar pressas: havia sempre tempo para ir à casa-de-banho, beber um chá e ficar a conversar ou a fazer nada. Fiz nada muitas vezes, todos os dias. Às vezes, o tempo para fazer nada era tão longo, como a hora e meia que separava o almoço do mindful working, que até dava para ir dar um passeio a pé até à povoação mais próxima (2 km) para beber um café… Ele há hábitos tramados.
A par da lavagem de pratos, o mindful working era um dos momentos mais stressantes para mim. Cheguei mesmo a abandonar o trabalho a meio por sentir que não estava a surtir o efeito “mindful” desejado. Basicamente, as Irmãs nunca estavam de acordo. Isto tem alguma piada, se pensarmos na ironia da coisa. Afinal, as Irmãs vivem em comunidade, conhecem os preceitos e os costumes e deveriam estar mais ou menos alinhadas. Só que não. Cada uma dava sua ordem. Se uma me dizia para secar os pratos com a toalha, cinco minutos depois vinha outra dizer-me que não era para secar os pratos com a toalha. Se uma me mandava tirar as ervas daninhas, cinco minutos depois outra me vinha dizer que não era para tirar as ervas daninhas. Uma vez, recebi três ordens contraditórias de três Irmãs diferentes no espaço de 20 minutos. Foi nesse dia que pousei delicadamente o pano que tinha na mão e saí sorrateiramente, marimbando-me para aquela desorganização. Fui ler um livro ou, provavelmente, fazer nada.
O jantar era às 17:30 e depois disso não se comia mais. Havia quem comesse à noite, no quarto, mas eu consegui manter sempre um jejum de 14 horas. Como me deitava cedo, não me custou absolutamente nada. Às 20h havia a última actividade do dia que, como não podia deixar de ser, era meditação. Por vezes, guiada, outras vezes não guiada, o que nos dava a liberdade de sair quando quiséssemos.
À noite, nos quartos, conversávamos sobre o dia, o que estávamos a achar e quais as nossas expectativas. As luzes eram desligadas às 22:30, o que nos dava muito tempo para conversar (baixinho, já estávamos no noble silence!) e depois ficar a ler, até as luzes serem apagadas por volta das 22h. No dia seguinte, o despertador iria tocar novamente às 5 da manhã…
Quando voltei do retiro de meditação em Plum Village, que fiz durante a semana da Páscoa, houve muita gente que ficou curiosa e me mandou mensagens a pedir mais informações sobre o retiro. Prometi que falaria aqui no blog sobre a minha experiência, mas não estava a conseguir pôr por palavras aquilo que lá vivi. Apesar de não ter sido, de todo, uma experiência mística, transformadora de vida, sinto que me despertou a minha espiritualidade adormecida, me deu algumas ferramentas para lidar com algumas situações do dia-a-dia e, por ter sido uma experiência tão diferente daquilo a que estava habituada, há-de ter mudado algumas coisas em mim, nem que seja a forma como encaro certas coisas ou como passei a compreender melhor as minhas atitudes.
Devo referir, antes demais, que a procura por um retiro deste tipo é sempre motivada por questões muito pessoais. Mesmo que soubesse, não vos ia dizer o que me levou a fazer um retiro deste tipo, mas deve ter sido algo muito forte, porque sinto que foi na altura certa e o retiro certo. Eu não queria um retiro só de yoga, nem um retiro exclusivamente de silêncio, e procurava algo com duração superior a um fim-de-semana e inferior a 10 dias. Com tanta oferta que há por aí, sentia-me um pouco perdida, mas o Tiago mostrou-me o documentário Walk With Me e fiquei convencida. Este documentário retrata o dia a dia da comunidade fundada por Thich Nhat Hahn, o monge budista do Vietname que foi proclamado Nobel da Paz em 1967 pelos seus feitos em prol da paz no Vietname. Thich Nhat Hahn, carinhosamente chamado de Thay (“Professor” em vietnamita) pelos seus seguidores, pediu exílio em França, onde fundou a comunidade que é hoje constituída por três mosteiros: Upper Hamlet (para monges e leigos residentes, onde Thay vive), Lower Hamlet (para monjas e leigas residentes) e, mais afastado, New Hamlet (também para monjas e leigas residentes), onde eu fiquei. Confesso que as denominações Upper e Lower me pareceram um pouco sexistas, mas depois percebi que se chamam assim simplesmente devido à sua localização geográfica: Upper Hamlet fica na colina, ao passo que Lower Hamlet fica no vale dessa colina. Ainda assim, pareceu-me que fiz uma boa escolha ao ter elegido o New Hamlet. Lower Hamlet deu-me a impressão de ser uma comunidade mais aberta, com um carácter de comunidade mais “hippie” por albergar muitos residentes leigos de longa duração (alguns vivem e trabalham lá há mais de três anos), ao passo que New Hamlet é constituído quase exclusivamente por monjas e tem, por isso, um carácter mais rígido de templo. Isso soube-me bem. Não sei se, ao procurar reclusão e quietude, me iria dar bem com um ambiente ao estilo Woodstock (passo o exagero)…
Os retiros são sempre de sexta a sexta e chegar lá é uma odisseia: avião para Bordéus, autocarro para a gare de St. Jean, depois comboio para Saint Foye la Grande, uma terriola a hora e meia de Bordéus, e depois ainda é necessário apanhar o transfer organizado pelo mosteiro, pois os hamlets ficam a vários quilómetros de distância. No meu caso, não tive direito a transfer, porque cheguei depois do último autocarro, e tive de organizar um táxi, que me teria ficado muito caro não fosse dar-se o caso de eu ter perdido o comboio, logo, também o táxi previamente combinado. Tive de ficar à espera de novo táxi e, por isso, acabei por conhecer pessoas a quem também sucedera o mesmo e com quem acabei por partilhar o táxi. Deu para dividir custos e conhecer logo pessoas que iam fazer o mesmo retiro, no mesmo hamlet.
Chegámos a New Hamlet eram 21 horas. Assistimos ao pôr do sol durante o trajecto, apreciando a paisagem magnífica do sul de França. Foi, assim, num estado de deslumbramento que cheguei a New Hamlet. A primeira imagem que retive foi a de uma monja que nos veio receber ao portão: o seu andar calmo e lento, a sua postura tranquila e inabalável, o seu meio sorriso no rosto, as suas vestes castanhas e a cabeça rapada debaixo do gorro fizeram-me logo perceber que tinha chegado a outra dimensão. Ali, não eram as pessoas que andavam mais devagar. Era o próprio tempo. Mas só no dia seguinte viria a perceber a importância de não ter pressa. Por enquanto, limitaram-se a fazer o nosso check-in e a conduzirem-nos ao nosso alojamento. Já estávamos em cima da hora de recolher e havia que respeitar o “noble silence”.
A casa onde viria a dormir (chamada “Gate House”, por ser a primeira) durante a semana seguinte ficava a cinco minutos a pé (a andar devagar) e era uma casa modesta de dois andares e vários quartos compostos por três a oito pessoas. Cada quarto tinha um nome e quando vi o nome do meu quarto quase me deu vontade de chorar: “Aspen – Let Go”. Let go – deixar ir aquilo que não me serve, não me apegar a pensamentos negativos – é uma das coisas que tenho tentado alcançar nos últimos tempos, com pouco sucesso, diga-se de passagem. Lá dentro, esperavam por mim as minhas companheiras de quarto, com quem me dei logo muito bem: uma senhora mais velha francesa, muçulmana simpatizante de todas as outras religiões, que falava muito mal inglês e me obrigou a reavivar o meu francês, e uma alemã de Berlim de quem gostei logo muito e com quem estabeleci uma grande cumplicidade.
Não dormi muito bem nessa noite. O colchão era mau e a expectativa do que me esperava grande. Estava ali para aquilo. Levei apenas livros sobre mindfulness e sabia que ia ficar sem telefone (tinha mudado de operadora e não recebera o cartão SIM a tempo, por isso era inevitável ficar sem telefone durante essa semana, como se viria a comprovar). Por isso, seria uma experiência de imersão total. Acho que, se fosse de outra forma, não valeria a pena. Estar longe da família, ficar incomunicável e gastar um bom dinheiro para estar ali tinha de valer a pena. Podia não ter valido. Mas, acreditem, valeu cada tostão e cada mensagem que não troquei.
Não venho aqui há algum tempo. Bom, não é verdade. Tenho vindo, abro o painel para escrever um post novo, mas não sai nada. Não se trata de writer’s block, mas sim de não saber por onde começar. Primeiro, estive uma semana num retiro budista de meditação e mindfulness e, quando cheguei, levei algum tempo a pôr as ideias em ordem e a reencontrar o meu lugar. Um retiro destes, ou talvez qualquer tipo de retiro, pois nunca tinha feito um, transforma-nos inevitavelmente de alguma forma, mesmo que não nos faça ver a luz, como costumo dizer. Depois disso, andei ocupada com a horta, com o trabalho e, no meio disto tudo, ainda decidi concorrer a um concurso literário. Talvez por isso, por ter canalizado todas as energias na escrita do conto, não arranjei força ou inspiração para escrever sobre a minha vida. Mas, garanto-vos, estou viva e de boa saúde. Tenho uma nova rotina de meditação, encontrei um grupo de meditação que se reúne semanalmente e que me permitiu conhecer novas pessoas muito inspiradoras, tenho trabalhado na horta todos os dias, o que me dá uma sensação de paz incrível (apesar dos gafanhotos que por lá andam, que já não me incomodam como dantes) e a participação no concurso trouxe à superfície um sentimento maravilhoso de superação, de conquista de um sonho de há muito tempo, da certeza de que nunca é tarde para nos desafiarmos. Não tenho quaisquer ilusões de ganhar, acreditem. Mas só o facto de ter concorrido, de ter conseguido escrever um conto que me agradou, do princípio ao fim, para mim significa que já ganhei. E o resto é conversa.
Lembram-se de um post em Janeiro em que falo sobre a necessidade de abrandar? Eu costumo deixar as coisas muito pela rama e acabo por nunca voltar a certos assuntos, mas acho que é importante regressar a este tema. Talvez para me relembrar do meu propósito para este ano ou talvez para, quem sabe, vos servir de inspiração.
Tenho posto algumas coisas em prática, outras vêm por si só; outras serão um constante work in progress. Vamos lá por pontos:
Família
Não sei se é do inverno, mas temos tido menos eventos sociais. Hmmm… Não, na verdade, não temos. Há fins-de-semana em que mal pomos um pé em casa. O fim-de-semana que se aproxima já está repleto de actividades, por exemplo, o que já me fez recusar um almoço e esforçar-me por reservar uma manhã inteira em casa, para podermos passar a manhã de pijama, tomar um pequeno-almoço prolongado e satisfazer o pedido da Alice de “fazer pinturas”, o que normalmente exige uma grande logística, como cobrir os móveis, trocar-lhe a roupa (às vezes, a mim também) e preparar-me mentalmente para a “deixar estar”. Digo-lhe que só ao fim-de-semana há tempo para isso. Ela percebe. Mas depois… tenho de cumprir!
Não sei o que nos passou pela cabeça quando, no início do ano lectivo, inscrevemos as miúdas em duas actividades… dois dias por semana cada! Feitas as contas, só lhes resta a sexta-feira e o fim-de-semana para brincar em casa. E brincar em casa também é importante. Há brinquedos do Natal que ainda estão por abrir… Curiosamente, foram elas próprias que começaram a pedir para não irem às actividades. A Alice não se deu bem com a capoeira e pediu para mudar para a ginástica. A Inês deu-se bem com a Capoeira, mas há ali qualquer coisa que a impede de desfrutar plenamente e acaba por arranjar desculpas várias para não fazer as aulas todas. Combinámos com ela que iria passar a fazer apenas uma vez por semana. O mesmo para a Alice com a ginástica. Só insistimos com a natação, porque ambos achamos que é muito importante que aprendam a nadar como deve ser. Vivemos ao pé da praia, só isso é razão que chegue.
Reduzimos, então, as actividades para apenas 3 vezes por semana. Mas, mesmo assim, há um dia que elas podem escolher para se baldar. Nesses dias, costumamos fazer qualquer coisa todos juntos ou simplesmente ficar em casa, a brincar. Sabe-lhes bem a elas e a nós, que não temos de andar de um lado para o outro. Para o próximo ano lectivo, temos de pensar melhor nisto antes de as inscrevermos.
Desporto
O desporto estava a causar-me algum stress. Praticava modalidades bastante intensas à hora de almoço e confesso que, às tantas, começou a ser demasiado “agressivo” para mim. Precisava de algo mais relaxante, que me permitisse descontrair e não andar sempre tensa, e com horários mais flexíveis. Encontrei, por fim, uma aula de yoga com a qual me identifico plenamente e que fica a 1 minuto do meu trabalho. Além disso, tenho ido nadar religiosamente todas as semanas. Escolhi um horário, mas como é natação livre, posso ir a horas diferentes. Como ando a treinar para a travessia da baía, sinto-me motivada, mas confesso de que também é um desporto que me agrada. Depois de entrar no meu ritmo, é como se conseguisse coordenar perfeitamente os movimentos do corpo com os pensamentos da mente. É claro que não sou a nadadora mais rápida do mundo. Na verdade, acho que toda a gente com duas pernas e dois braços me passa à frente…
Ainda assim, sinto-me bastante confortável com este plano de exercício. No entanto, 4 meses depois de ter deixado o ginásio, começo a sentir falta de algum reforço muscular e estou a ponderar voltar às aulas de circuito só uma vez por semana. Mas ainda não me decidi…
Trabalho
Não me sinto stressada a este nível. Há alturas de picos de trabalho, outras de menos trabalho. Vou aproveitando as pausas o melhor que posso, mas como gosto do que faço, raramente me sinto insatisfeita. So far so good (e faz um ano que aluguei o escritório!).
Digital
Um dia, por acaso, encontrei o blogue da Melanie Geoffrey & Grace – slow & wholehearted living. Ela oferece um e-book gratuito sobre o movimento slow, chamado Slow Living Retreat. Eu aderi e, durante uma semana, fui recebendo e-mails com algumas dicas para uma vida mais calma: desde prioridades, ao ambiente doméstico, a técnicas de relaxamento e respiração, à nossa presença no mundo digital. Foi o dia 2 que mais me despertou a atenção. Chama-se “21st Century Slow” e dá dicas sobre como podemos passar a usar menos o telemóvel e as redes sociais. Eu sou um pouco dependente do meu smartphone, confesso. Faz tempo que tenho noção disso, mas só quando me começou a incomodar é que decidi fazer algo a esse respeito. Seguindo as dicas da Melanie, passei, assim, a deixar o telefone numa gaveta quando chego a casa. Desactivei as notificações (o som) das apps e deixei apenas o som activado para as chamadas, não vá haver alguma emergência. Tento deixar o telefone na gaveta desde que chego a casa até que as miúdas estão deitadas. Isto ainda é recente e, portanto, ainda não enraizei o hábito, o que faz com que vá espreitar de vez em quando…
Meditação e relaxamento
E, agora, a grande novidade! Inscrevi-me para um retiro de meditação num mosteiro budista! Daqui a 15 dias (já?), voarei para Bordéus onde, depois de uma longa viagem com vários transportes públicos, chegarei à Plum Village para uma semana de meditação e mindfulness. Perguntam vocês: bateste com a cabeça? Respondo eu: talvez. O que faz uma pessoa querer fazer um retiro destes? Isolar-se? Encontrar-se? Procurar respostas para a vida? Confesso que não sei bem. Só sei que preciso, é como um chamamento (…som de taças tibetanas…). Tenho uma grande vontade de embarcar sozinha numa aventura destas. Deve haver muitos retiros do género por aí, mas escolhi este depois de ver o documentário e ler alguns artigos do monge Thich Nhat Hanh (missão: aprender a pronunciar o nome dele antes de chegar ao retiro…).
A fim de me preparar para o que me espera (na verdade, não sei o que me espera, mas calculo que, tratando-se de um retiro de meditação, deve haver várias sessões de meditação ao longo do dia…), tenho andado a (tentar) meditar (quase) diariamente. Sou uma autêntica nulidade em meditação, mas acho que todos são quando começam a praticar, certo? Para garantir que não sou incomodada, tenho-me levantado 10 a 15 minutos mais cedo e aproveitado para meditar enquanto todos dormem. Nem sempre consigo. Por exemplo, ontem a Alice surpreendeu-me a descer as escadas e só com muita insistência consegui que voltasse para a cama.
Para me ajudar, uso algumas apps de meditação guiada. Comecei com a Headspace. Dizem que é a melhor, mas é paga e depois dos 10 dias gratuitos, deixei de a usar. Agora uso a Potential Project. Não a acho tão boa em termos de orientação, pois deixam-nos muito mais tempo “desamparados com a nossa mente” o que, no meu caso, é fatal… Confesso: ainda não consegui fazer mais de quatro ciclos de respiração sem que a minha mente começasse a vaguear. Dizem-me que é normal, mas eu vejo a coisa mal parada… Ainda assim, confesso que gosto deste ritual matutino: levantar-me em pezinhos de lã, fazer a minha água quente com limão, meditar, ir tomar banho… E se me custa acordar cedo? Só se tiver dormido mal. De resto, não. Acho que sou mesmo uma pessoa das manhãs.