Leituras de 2018 #1

1. Lucia Berlin, Manual para Mulheres de Limpeza

Demoro-me sempre muito na banca da Alfaguara, na Feira do Livro. Reparei na Lucia Berlin quando já estava a pagar. Confesso que foi o apelido dela que me chamou a atenção. Peguei no livro. Ah, são contos. Devolvi-o ao seu lugar. Não tenho grande paciência para contos, prefiro histórias grandes e complicadas como a vida. A vendedora, no cumprimento do seu dever de aconselhar e vender livros, assegurou-me que, sim, eram contos, mas não eram, porque, juntos, formavam uma espécie de autobiografia e podiam ser lidos como uma só história. Depois olhou para os outros livros que eu estava prestes a comprar e assentiu, em jeito de confirmação, com um leve meneio de cabeça: “Olhe

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Explicar a morte de um animal de estimação às crianças

Passei a semana a temer o momento em que uma das miúdas me perguntasse pelo gato (elas achavam que ele ainda estava internado) ou que lhe fizesse alguma referência inofensiva como “não deixem o frango em cima da mesa por causa do Dexter” que desencadeasse perguntas inconvenientes. Sabia que tinha de lhes contar, mas não sabia como. Recorri à Internet como faço para quase tudo e encontrei um artigo muito útil com uma lista de livros que ajudam a explicar a morte às crianças.
Escolhi o livro “Um gato tem 7 vidas“, da Luísa Ducla Soares, comprei-o e treinei para evitar chorar desalmadamente enquanto lhes lesse a história.

A literatura, de facto, pode ser de grande ajuda nas fases difíceis. Foi a melhor introdução que podia ter escolhido para dar esta notícia triste. Primeiro,

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Leituras de 2017 #8

24. As Avenidas Periféricas, de Patrick Modiano

Patrick Modiano foi Prémio Nobel da Literatura em 2014, ano em que este livro me foi dado. Confesso que só peguei nele porque era curto e eu queria cumprir o meu desafio de leitura de 24 livros num ano. Não gostei muito, para ser boazinha. Achei a escrita mediana e o enredo totalmente disparatado. Um filho (spoiler) que sofre uma tentativa de homicídio pelo próprio pai e que, mesmo assim, parte à procura dele? Um pai que reencontra o seu filho, mas que não o reconhece? Poderia ser o drama perfeito, mas achei um perfeito desperdício de tempo.

25. Da Mão para a Boca, de Paul Auster

O mesmo já não se pode dizer deste livro. Sim, também peguei nele por ser curto e me permitir cumprir o meu desafio (li alguns livros com mais de 500 páginas e deixei um livro a meio, o que justifica esta pequena batotice), mas Paul Auster é um excelente contador de histórias e em Da Mão Para a Boca relata-nos a sua própria história antes de ser um escritor famoso, plena de peripécias e dificuldades, das quais se vai desenvencilhando com relativa delicadeza, o que só nos faz gostar mais dele.

26. Os Últimos Dias dos Nossos Pais, de Joël Dicker

Quando comecei a ler este livro, tive dúvidas se me teria enganado. Não parecia ser a mesma escrita elegante e entusiasmante de A verdade sobre o caso Harry Quebert ou O Livro dos Baltimore. De facto, o tema nada tem a ver.  Mas o facto de este ter sido o seu primeiro livro, antes das suas obras-primas, justifica o que vou dizer a seguir: Os últimos dias dos nossos pais é um livro ingénuo, com frases infantis e descrições que parecem ter sido retiradas de um livro juvenil. Se nos abstrairmos disto, a coisa até vai. Mas, ainda assim, não consegui livrar-me de um sentimento de desilusão ao longo da leitura. A parte boa é que Dicker se conseguiu afastar deste registo e escrever duas obras esplêndidas a seguir. Valha-nos isso.

E foi assim que, a uma semana do final do ano, consegui cumprir o meu desafio de leitura para 2017: 24 livros. Quem tiver o Goodreads, pode ver todos os livros aqui. Para o ano vou aumentar ligeiramente este número. Quero ler alguns livros com 500 e 600 páginas e alguns clássicos de leitura mais demorada, mas estou bem lançada, por isso acho que não me vou deixar ficar mal.
E vocês, quais são as vossas aspirações em termos de leitura para o próximo ano?

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Leituras de 2017 #7

21. Norma, de Sofi Oksanen

Este livro tem tudo para correr bem. Quando digo tudo, refiro-me à história, passada no coração de Helsínquia, que mistura gangsters, tráfico de mulheres e adopções ilegais com elementos do realismo fantástico, e à protagonista (aqui entra o realismo fantástico) que foi dotada à nascença com um cabelo mágico, que se estica, encaracola ou eriça ao sabor das emoções e que cresce a uma velocidade estonteante. Parece um livro especial, fora do comum e com tudo para correr bem, certo? Só que não corre bem. A escrita deste livro é simplesmente confusa. A autora mete os pés pelas mãos e é preciso voltar atrás várias vezes para perceber a passagem entre cenas ou quem é que afinal está a fazer o quê, o que me irritou sobremaneira. Achei que havia muito potencial nesta história, mas as minhas expectativas saíram completamente goradas.

22. Cinza e Poeira, de Yrsa Sigurdardóttir

Este é o terceiro livro que leio de Yrsa Sigurdardóttir, mas foi o primeiro que ela escreveu (os outros dois são O Silêncio do Mar e Lembro-me de ti) e confirmo que gosto do estilo desta escritora. Não esperem, contudo, um livro de suspense de tirar o sono ao estilo dos thrillers americanos. Não, Ysra Sigurdadóttir não escreve policiais padrão. São policiais, sim, porque se cometeu um crime e se procura um assassino, mas a protagonista da história é uma advogada que investiga os crimes apenas para salvar o couro dos seus clientes, dividida entre o trabalho e a vida familiar. O cenário é a maravilhosa Islândia, neste caso em concreto, a ilha Westman, a segunda maior ilha da Islândia, que, em 1973, foi devastada por uma grande erupção que causou a evacuação de todos os habitantes e a destruição de muitas casas. Rolam cabeças por campos de lava, mas não se nos eriçam os pelos. É um livro fácil e leve, que recomendo para quando andarem de cabeça cheia.

23. A Gorda, de Isabela Figueiredo

Aqui está um livro fenomenal. Foi-me recomendado por uma amiga que, não estando propriamente a adorar, achou que eu iria gostar do livro. Por acaso, eu comprara-o na Feira do Livro de Verão de Sesimbra, porque já ouvira falar dele, mas ainda estava em lista de espera.

Adorei este livro, dou nota máxima. Apesar de o tema não ser fácil (uma mulher expatriada de Moçambique aos 12 anos que enfrenta a vida num internato e se sente sempre desajustada no seu corpo enorme, a sua relação com os pais, com os namorados), a escrita é perfeita, com um domínio invejável do português (que não se vê em todos os autores que por aí andam), crua, sem medo de chamar as coisas pelos nomes e, apesar de ser altamente autobiográfico (será impressão minha?), não cai no erro da lamechice. Ainda assim, é despretensiosa. A forma como separa os acontecimentos por capítulos relacionados com divisões da casa também está muito bem conseguida.

Se só puderem ler um livro para o ano (depois de lerem a saga da Amiga Genial da Elena Ferrante, está claro!), leiam este. Se eu não vos convencer, talvez a crítica da Sábado o faça. E, entretanto, podem ir acompanhado a escritora no seu blog.

 

Livros lidos entre Setembro e Novembro.

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Leituras de 2017 #6

18. História da Menina Perdida, de Elena Ferrante

O último volume da série Amiga Genial. Procurei arrastar a leitura, para adiar ao máximo chegar ao fim do livro, mas não consegui. Este é daqueles livros que se leem de um só fôlego. Mas, como esperava, fiquei triste quando o terminei. Porque fiquei sem a companhia da Lila e da Lenú e porque sei que vai ser difícil encontrar outro autor que supere a genialidade de Elena Ferrante.

Recomendo vivamente a leitura destes quatro volumes (A Amiga Genial, História do Novo Nome,  História de Quem Vai e de Quem Fica, História da Menina Perdida). É do melhor que já li nos últimos anos (décadas? a vida toda?).

19. 1Q84, Livro 2, de Haruki Murakami

Na sequela do volume 1, continuamos a acompanhar as desventuras de Aomame e Tengo e a realidade fantástica do ano de 1Q84, uma espécie de mundo paralelo em que as coisas não são o que parecem. Fica a faltar-me o volume 3 para descobrir como se vão safar os dois da embrulhada em que se meteram e se acabarão algum dia por se reencontrar.

20. Meia-Noite ou o Princípio do Mundo, de Richard Zimler

Até agora, ainda não houve nenhum livro do Richard Zimler de que não tenha gostado. O tema gira sempre em torno dos judeus, perseguição aos judeus nas diversas épocas, cristãos-novos, etc, e são livros muito bem escritos. Zimler é um contador de histórias exímio e, neste livro, nos traz a história da amizade incondicional entre John Zarco Stewart, filho de uma judia portuguesa, e Meia-Noite, um carismático curandeiro trazido de África para o Porto. Gostei muito, são 576 páginas que voam… como uma pena.

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