Tomates e mais tomates

Depois das dificuldades iniciais, a nossa horta prospera finalmente e todos os dias vamos colher – literalmente – os frutos do nosso trabalho. No entanto, como decidimos começar devagar, plantámos apenas tomates, pimentos e ervas aromáticas. Os tomates, veio-se a ver, e são quase todos cherry. Os que não são cherry, são demasiado poucos e demasiado doces para não serem comidos à dentada assim que os colhemos. Os pepinos ainda não vingaram. De vez em quando, temos um pimento ou outro, um morango ou outro, e entre 250 a 500 gramas de tomate cherry – por dia! Acho que não é um bom tomate para fazer doce, molho ou conserva, por isso é ir comendo. E é assim que temos comido omolete com tomate cherry, tortilha com tomate cherry, salada com tomate cherry, massa com tomate cherry, trago tomate cherry para comer entre refeições no escritório, a Inês leva tomate cherry para o lanche. Enquanto brincam, vêm roubar tomate cherry e, apesar de eu já estar a ver tomates cherry pelos olhos, há ainda muitas receitas para experimentar e fico contente por elas continuarem a achar tanta piada em comer os tomates da nossa horta. Espero que dure, porque diz que a produção vai ser até Setembro…

 

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Queria eu ter uma horta…

… agora vou ter duas.

Mas comecemos pelo princípio. Quando transformámos o canteiro das ervas daninhas em canteiro de tomateiros, pimenteiros, alfaces e acelgas, não sabíamos bem no que nos íamos meter. Primeiro, porque comprámos uns tomateiros (cherry, mas já nos disseram que fomos enganados) e eu ainda semeei alguns que pegaram muito bem, mas sem fazer ideia que eles iam ficar, muito rapidamente, do tamanho de palmeiras. Depois, porque a coisa dá trabalho. Não só por causa dos predadores, como também pelo elevado nível de manutenção que um canteiro mini exige: é preciso regar, tirar as ervas daninhas, afastar o gato, afastar o cão, afastar o corvo (espera, é melhor não), colher as alfaces antes que espiguem, fora a ansiedade que me assola se chover torrencialmente, cair granizo, fizer muito calor antes do tempo, fizer pouco calor fora do tempo, e tudo o mais que é alheio à minha vontade e em que dantes nunca pensava.

Os tomateiros deram-nos especialmente que fazer. Foi preciso eu chamar o meu pai para a coisa entrar nos eixos. Por muito que eu puxasse dali e daqui, só conseguia partir alguns ramos e esfrangalhar-me os nervos. Com pouca capacidade de engenho, confesso, telefonei ao papá que se meteu nesse mesmo dia a caminho para construir uma estrutura que, apesar de amadora, foi a solução para as minhas preces. Parece que os tomates vão durar o verão todo, mas para o ano já sei o que tenho de fazer quando voltar a plantar tomates. Senão vejam o antes:

Uma autêntica selva desordenada. Lá debaixo, estão as alfaces e os pimenteiros que, sem apanhar sol, não se conseguem desenvolver.
A minha fraca capacidade de colocar umas canas para… nem vou comentar.
Mas seria uma pena estragar a plantação. Olhem só para eles a rebentar!
O papá chegou. Começa de imediato a projectar um plano.
No fim do dia (sim, isto foi empreitada para umas largas horas), não só tinha uma estrutura apresentável, resistente e bem pensada, como até já vou voltar a ter alface para a salada!

Entretanto, o meu sogro, que passou por ali durante a missão de resgate dos tomateiros, achou que eu podia e devia fazer o mesmo noutro canteiro (cito) cheio de flores que não servem para nada. Assim pensou, logo o fez. Em menos de nada (ainda a estrutura dos tomateiros não estava pronta) estava a chamar-me para eu ver o meu novo espaço de trabalho e foi assim fiquei com a horta 2 à disposição. E, apesar de ficar contente, isto é mais ou menos como ter um cão, para quem tem um gato: dá muito trabalho e é uma prisão. Mas a verdade é que comecei logo a pensar nas favas que vou plantar para o ano…

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O corvo Rafael

Vai uma pessoa, começa uma horta na varanda, visita as minhocas três vezes ao dia, alimenta-as adequadamente e procura perceber se estão de boa saúde (para isso tem de lhes tocar, claro está, o que já não faz impressão), compra arruda para afugentar os gatos (e as bruxas também, fiquei eu a saber), planta 6 alfaces, com extrema preocupação para com as lesmas, e, no fim, aquilo que realmente nos estraga as sementeiras e os morangos não são as lesmas, nem os gatos, nem os caracóis, nem os insectos, mas sim o raio de um corvo. É o corvo, avisou a Ana, a vizinha, que vem de manhã debicar o vaso verde, aquele das sementes de acelga, e os morangueiros também, que estavam tão bonitos. Por isso estranhava eu que as acelgas não rebentassem – a minha primeira experiência tinha resultado muito bem e a Ângela do workshop disse que as acelgas davam muito bem – e que os caules dos morangos tivessem aparecido partidos. A Lena, a senhora da limpeza, também já me tinha dito que o gato Dexter andara a deitar os vasos para o chão, coisa que eu estranhei muitíssimo pois o bicho não se costuma prestar a essas coisas. Vai na volta foi mesmo o corvo, que mais parece um peru, diz a Ana, a vizinha, é pesado e grande como o raio e me comeu as sementes de acelgas todas. Tão irritada fiquei que fui buscar a estufa para as sementeiras, aquela estufa que nunca resultou, e comecei a construir, por cima do morangueiro que se safou, um espanta-corvos que mais parece uma carruagem de circo. É que a ave dos maus presságios, o tal corvo, não é um corvo qualquer. Não. É o corvo Rafael que vai comer à mão de um homem que costuma parar na esquina do café e falar, orgulhoso, do seu novo bicho de estimação, que lhe vem comer bolachas à mão, ora querem ver?, e tira do saco umas bolachas que atira para a estrada, enquanto chama Rafael, ó Rafael. Naquele dia o bicho não foi, mas estes meus olhos já viram, noutra ocasião, tamanho acontecimento insólito, de ir o ovíparo efectivamente comer à mão do dono, prova de que não é nenhuma história inventada só para me desculpar de más jardinagens. Talvez não tivesse fome, naquele dia, talvez tivesse o bucho cheio de sementes de varandas alheias. Fiquei tão irritada, repito, que devo ter mencionado a palavra espantalho várias vezes para que hoje, de manhã, a Alice ouvisse o corvo, empoleirado a dois telhados do meu, grasnando com a sua voz de cana rachada, o traste, e me perguntasse Ó mamã, quando é que fazemos o espantalho?

E pois que agora terá mesmo de ser. Raisparta o bicho.

 

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Hortas verticais, minhocas e permacultura

Às vezes sinto que sou daquelas pessoas que se entusiasmam por tudo e depois não conseguem fazer nada ou tentam fazer tudo ao mesmo tempo e nunca sai nada bem. É a macrobiótica, é a costura, é a compostagem, é a jardinagem. O que me vale é que nunca me atiro de cabeça a nada, ou seja, vou fazendo aos poucos, continuando a haver espaço para os interesses que já existiam ou outros novos (há sempre qualquer coisa nova para aprender).

Mas uma coisa é certa: nenhum dos workshops que fiz nas mais diversas áreas caiu em saco roto. Mais recentemente a macrobiótica serviu para ir integrando na minha alimentação certos alimentos e formas de cozinhar que, de outra maneira, nem me lembrava deles. A compostagem que comecei em Janeiro está finalmente com aspecto de composto graças a todos os bichos de conta, lesmas e outras criaturas que povoam a minha caixa. Ainda assim, e apesar da colaboração do cozinheiro cá de casa que já me pergunta “queres isto para a tua caixinha?”, não sentia que a minha experiência estivesse a corresponder às minhas necessidades de evitar ao máximo deitar para o lixo material biodegradável. A caixa era pequena e estava quase cheia. Cheguei a um impasse: ou arranjava uma caixa maior ou passava para a vermicompostagem. Mas onde arranjar minhocas? Não as queria comprar. Este tipo de minhocas reproduz-se a uma velocidade incrível,  por isso não me parece bem que se faça negócio com elas. É o que acontece também com o fungo do kéfir. Aquilo cresce naturalmente e as pessoas têm dar o excedente, pois é impossível dar vazão a tanto kéfir numa família padrão. Mas a maior parte das pessoas faz negócio com isto. Não entendo… Mas voltemos ao assunto.

As minhas dúvidas foram respondidas na Oficina de Hortas Verticais, organizada pelo Lugar da Terra no Zambujal, Sesimbra, a que fui ontem. A formadora deu o workshop integrado no âmbito da permacultura, logo, era natural que se falasse em reaproveitamento de resíduos e devolver à terra o que é da terra. A compostagem. Perguntou logo se alguém queria levar minhocas para casa e eu não hesitei. Trouxe 15, que é aquele número bom para daqui a três meses ter uma legião delas. Sei quem se vai passar com isto…

Foi uma oficina muito gira. Houve uma dinâmica engraçada no grupo e ficou desde logo demonstrado o interesse numa oficina de compostagem. Aprendemos sobre os 12 princípios da compostagem, falámos sobre sementes, pragas, herbicidas e fertilizantes naturais, legumes que querem sombra ou sol e, na segunda metade, fomos para a rua meter a mão na terra. Eu fiquei espantada com os conhecimentos que já tinha da coisa. Afinal, as minhas várias experiências de jardinagem na varanda de casa ou no mini-canteiro na era pré-gafanhotos serviram para alguma coisa, mesmo que a maior parte tenha tido um final infeliz. As perguntas que fiz não foram totalmente disparatadas e senti-me realmente integrada, como se estivesse no meu mundo. Até mexi nas minhocas com mãos desnudas! Trouxe-as para casa, num copo de plástico embrulhado com alumínio (super sustentável!), metia-as na sua nova casa, falei com elas (hahaha, esta parte é mentira!) e fui a correr fazer uma sopa e beber um café – elas adoram borras de café – para lhes dar de comer e garantir que não fogem enquanto lhes arranjo uma mansão à medida.

Enquanto havia luz, plantei também tudo o que havia para plantar cá em casa e transplantei o meu primeiro tomateiro que, fiquei a saber, gosta de ficar suspenso no ar. Vou ter finalmente uso a dar a latas e garrafas de plástico. Vou postando os resultados e, enquanto a natureza segue o seu curso, deixo-vos com algumas fotos da oficina.

Um canteiro vertical improvisado com garrafas de plástico. Devido à pouca profundidade, não dá para plantar grande coisa, mas é óptimo para germinados ou erva trigo.
Vermicompostagem. Aqui vê-se o composto praticamente pronto com minhocas vermelhas da Califórnia.
Um canteiro vertical improvisado com vasos e uma cana de bambu.
Plantar morangos em latas de metal. Convém forrar as latas ou usar daquelas latas já permeabilizadas (têm uma espécie de tela branca no interior).
Várias culturas num garrafão de água.
A minha experiência em casa. Em baixo um futuro tomateiro, que, como aprendi, gosta de estar suspenso de pernas para baixo. Em cima, um pé de hortelã mirrada, mas acho que foi um erro. O manjericão é que dá bem com o tomate, não sei onde estava com a cabeça….
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