Encontros de família

Os encontros de família sempre me causaram alguma ansiedade, mesmo quando ainda era só a minha família. Havia sempre comentários sobre a minha roupa, ou o meu cabelo, ou o meu peso. Havia sempre quem puxava uma conversa que alguém não queria ter, havia sempre um comentário que ficava no ar, havia sempre demasiada comida e a obrigação de a consumir em sinal de boa educação. Eu era a mais nova e sofria por isso: era nova demais para participar em certas conversas, mas já não tão nova que pudesse fingir que não as entendia.

Hoje em dia, os encontros familiares continuam a causar-me alguma ansiedade, mas cada vez menos. Já não sou a mais nova, nem me destaco pelas roupas ou pelo peso. Já consigo relaxar à mesa mesmo sem saber quem vai calhar ao meu lado. Já ninguém repara se como, ou se gosto, ou se repito, e eu às vezes não como assim muito porque me distraio com a conversa. Tento disfarçar o que bebo. Às vezes, a conversa até é boa e nem me lembro de que, no ano anterior, não estava ali, no mesmo encontro anual, mas sim em casa, cheia de dores, a tentar distrair-me com um livro que não me ficou na memória.

No meio da conversa, que foi sempre boa, reparei, claro, no vinho que foi servido. E lembrei-me de, ontem, quando andava à procura de um vinho para abrir, ter visto uma garrafa igual cá em casa. Tratamo-nos bem.

Está aquele tempo entre o chove ou não chove. Por via das dúvidas, quando chegar a casa vou regar.

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Mercúrio

Está tudo a acontecer ao mesmo tempo. Como o presente está a ser demasiado efusivo a berrar-me aos ouvidos com megafones, estive a noite passada acordada entre a uma e as cinco da manhã a rever o passado e a antecipar o futuro. O dia, claro está, não foi fácil. O que não impediu a roda de continuar a girar.

Raio do mercúrio retrógrado que nunca mais sai do sítio. Ainda começo mesmo a acreditar que o que não se explica explicado está.

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Pêra-melão

Fui fazer uma pequena caminhada com a mais nova depois da escola. Ela quis escolher o caminho. Cortámos à esquerda do talho do Sr. Manel e fomos dar às hortas, de onde seguimos pela casa que parece um palacete e pelo pavilhão. Foi sempre tagarelando sobre a escola e o menino com que partilha a carteira que se esquece do som das letras. Chegámos a casa batiam os 3 km no relógio. Ela regou o canteiro dela, eu reguei os meus e reparei que o arbusto da pêra-melão já tinha frutos amarelos. Olha, queres provar um? Pode ser, a que sabe? Deve saber a pêra, ou então a melão. Pois a mim sabe-me a pepino.

Será que fica bem na salada?

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Uns arrumam, outros desarrumam

As arrumações na garagem só terminaram hoje, mas valeu a pena; ficou pronta para uma ronda de convívios. Já não nos lembramos da última vez que convidámos mais de dois amigos de cada vez e parece que já apetece organizar daquelas festas que dão trabalho antes e depois, mas que sabem bem durante. Ficou acordado que, este ano, iria haver São Martinho na garagem, mesmo que, até lá, as aranhas tenham tempo de voltar a decorar o tecto (Halloween?).

Entretanto, enquanto os pais arrumavam, as filhas ficaram em autogestão e quando entrei em casa o cenário era mais ou menos este.

Parece-me que ainda não é desta que participo no #instagraminteriorchallenge.

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Outubro

Não deixa de ser curioso que no dia em que decidimos arrumar o verão – guardar no sótão a prancha de SUP, os colchões e os chapéus-de-sol, esvaziar a piscina e limpar a garagem para a série de aniversários que se aproxima – tenham feito temperaturas bastante agradáveis, tenhamos almoçado sardinhas no quintal sem vento nem moscas e, ao final do dia, tenhamos ido comer um gelado à vila, que vibrava de gente de chinelo no pé e areia na pele. Não é Agosto e parece estranho, mas na verdade lembro-me sempre de a primeira metade de Outubro ser assim.

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