Espantam-me sempre as coisas que encontro nas minhas caminhadas, se bem que, normalmente, só eu saiba porque me espantam certas coisas ou me despertam a curiosidade. Há de chegar o dia em que me apanham a tirar fotos a uma casa e depois lá tenho de me desculpar e explicar que gosto do nome (ou que o achei piroso, o que é igualmente válido), ou dos painéis de azulejos na fachada da casa que me fazem lembrar uma manta de retalhos, ou do jardim compostinho ou do gato fotogénico ou do peixe a secar estendido na corda. É giro ver as coisas que as pessoas fazem e têm nas suas casas. Dá uma ideia vaga daquilo que são na vida.
Devem pensar o mesmo de mim quando passam pela minha casa, que está à vista descarada de toda a gente e permite uma vista desafogada para lá do portão. E as pessoas olham, sem pudor. Já me habituei, mas preferia ter tudo fechado com umas sebes de bambu que crescem muito alto e não dão a sensação de estarmos fechados numa prisão. Mas não temos e eu vou-me acomodando ao que tenho e ao que posso ter com o dinheiro que tenho e quero gastar na casa. A julgar pelo exterior, não ostento lá grande coisa, em parte por causa da tal questão do dinheiro, em parte porque me faltam ideias e forma de as concretizar. Tirando os canteiros, não sei se dá para ter uma ideia vaga daquilo que eu sou na vida. Se calhar, também me engano quanto aos outros.
Valha-nos a imaginação.