Só para esclarecer

Praticamente todas as mulheres que sigo no Instagram (artesãs, defensoras de um estilo de vida saudável, protectoras do ambiente,  mulheres normais como eu) estão na Women’s March em DC ou em marchas de apoio noutros estados. Percebo que sigo as pessoas certas. Eu, que nunca fui de me envolver ou manifestar publicamente, na eventualidade de ser americana era bem capaz de lá estar com elas. Juntas, somos mais fortes. Espero que consigam fazer-se ouvir. Por todas as mulheres do mundo.

E, já agora, fuck Trump.

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Isto de ter um blogue

Não há assim muitas desvantagens em ter um blogue. Temos de despender algum tempo, é certo, mas o tempo é o que fazemos com ele e, desde que não seja uma obrigação desprazerosa, não considero como tempo mal empregue aquele que gasto nos meus hobbies, pelo contrário. Às vezes, temos um ou outro comentário mais parvo, mas blogues como o meu, sem muita visibilidade, não são muito atacados pela parvoíce alheia. Fora isso, ter um blogue só me tem trazido coisas boas. Senão vejam: desde o meu primeiro blogue, fiz amigos, viajei e apaixonei-me, assim por esta ordem. Hoje em dia, quando penso que o meu décimo blogue já não consegue fazer a minha vida dar muitas voltas, ainda tenho algumas surpresas. Como a que uma leitora que sigo no Instagram me fez no outro dia, ao me mandar por correio um molde de costura, que fotocopiou e copiou à mão de propósito para mim. Pode não parecer nada. Mas é. Nem toda a gente está disposta a arranjar 15 minutos do seu tempo por alguém que nunca viu na vida. Às vezes, nem por alguém que viu. Só por isso, muito obrigada Inês!

E agora vou mesmo ter de arranjar coragem e fazer aquela blusa para mim!

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Estás igual

Ontem reencontrei algumas amigas do tempo da faculdade que não via há muitos anos (mentira, encontrei duas delas ainda este ano, mas não foi o suficiente para deixar a sensação de que mantemos o contacto). Antes que mo dissessem a mim, apressei-me a dizer eu: “ia dizer-te que estás igual, mas não estás, não podes estar igual”.

Quando as pessoas nos dizem que estamos iguais ao que éramos há dez ou quinze anos atrás é uma espécie de insulto. Pelo menos foi o que senti quando regressei a Berlim oito anos depois de ter partido e reencontrei alguns amigos que olharam para a minha franjinha, que por acaso decidira cortar tal como a usava em Berlim, e acharam que tudo se resumia ao aspecto físico. Mas até aí se enganaram, pois na altura era roliça, não fazia desporto, fumava, tinha a pele baça e agora sou o oposto, francamente melhor, com um aspecto mais saudável, pelo menos. Para não falar em tudo o resto, no meu interior, na pessoa que sou hoje que é tão diferente da pessoa que veio de Berlim em 2007. Muito mais calma, muito mais confiante, muito mais feliz.

Dizerem-me, assim, que estou igual ao que era nos tempos da faculdade (há 16 anos), é um insulto a dobrar. Uma espécie de Big Mac dos insultos. Se a diferença entre eu-agora e eu-quando fui para Berlim é enorme, então a diferença entre eu-agora e eu-estudante universitária é colossal. Uma espécie de muralha da China intransponível, uma fronteira entre dois países totalmente opostos, o quente e o frio, o belo e o feio. Mas deixemo-nos de metáforas. A vida, a maturidade, o amor, a maternidade, seja o que for – ou tudo junto – que me tenha acontecido nestes anos e me tenha mudado para sempre, tornou-me numa pessoa muito mais feliz, ou simplesmente feliz, para sermos práticos. Não, não estou igual. Mas estou muito melhor, obrigada.

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Que nome se dá a um blogue de cacaracá?

“E se fosses criança (rapariga ou rapaz)
viverias no campo, livre e em paz,
subirias às árvores frondosas
pra descobrir os ninhos e os esquilos,
caçarias os grilos,
cheirarias as rosas,
ou terias vontade
de viver numa casa da cidade,
bem vestido e calçado,
com um livro de estampas a teu lado?

-Oh, que bom ser criança! Tanto faz
que seja rapariga ou que seja rapaz!”

Versos de Cacaracá, de António Manuel Couto Viana

Há uns tempos, o Tio João ofereceu este livro de poemas à Inês. Lembrei-me dele bem mais tarde, quando me detinha em frente aos flamingos, graciosos e equilibristas, na visita que lhes fizemos no Jardim Zoológico este verão. Já ia o resto da família mais adiante, sequiosa de ver os leões, ursos e pavões, e eu, sem arredar pé de perto dos flamingos, ia fazendo jogos de palavras na minha cabeça. Queria por força arranjar um nome para o meu novo blogue que tivesse a ver com flamingos, os quais, por uma qualquer razão que não sei explicar, estão no topo da lista dos meus animais preferidos e vão, por isso, habitando os padrões de tecidos e os motivos de quadros e cadernos cá de casa. O voo do flamingo, a dança do flamingo, o flamingo perneta. Esta última lançou sorrisos cá em casa, aposto que desse lado também. Mas, convenhamos, o meu blogue não faz rir ninguém, não sou comediante, não tenho o dom da palavra jocosa. Não tenho o dom de palavra nenhuma, até me atreveria a dizer. Mas adiante. Tens de arranjar um nome que tenha a ver com o que tu escreves, dizia-me ele. Mas sobre o que escrevo eu? Costura, destralhar, produção de lixo, as minhas filhas, um post pessoal aqui e ali, pouca música, um muito de nada, um pouco de tudo. “Isto vai ser difícil”, pensava eu, em frente aos flamingos no jardim Zoológico, tão bonitos, tão formosos. “Isto vai ser bem difícil. Nada me soa. Nada condiz comigo. Afinal, que nome se dá, que ainda não tenha sido dado, a um blogue de cacaracá?”

blogdecacaraca

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