37 (aos amigos)

Costumo dizer que não tenho muitos amigos. Dos amigos da faculdade fui-me afastando, ao longo dos anos, não mantendo contacto pessoal regular com ninguém em particular (apesar de haver algumas pessoas que guardo no coração e com quem me encontro algumas – poucas – vezes por ano como se nunca nos tivéssemos separado) e os amigos que fiz pelo mundo ficaram lá, pelo mundo, longe de mim, na Alemanha, em Espanha, na Austrália, com as suas vidas ocupadas e os seus afazeres que vamos tentando actualizar no Whatsapp.

O Facebook também ajuda a conservar o contacto com muita gente, mas são poucos aqueles a quem possa chamar amigos – aqueles a quem posso telefonar num aperto que é mais ou menos assim como distingo os amigos a sério dos outros. Quando conheci o Tiago, conheci também os seus amigos. E tantos que eles eram. Dez anos depois, criei laços, mais fortes com uns do que com outros, como é natural, mas todos eles fazem parte de dez anos de vida em comum, dos dez anos mais importantes da minha vida, aqueles dez anos em que fui mãe, em que me libertei, em que me conheci melhor, em que me superei. Ainda assim, penso muitas vezes que, fora algumas excepções, eles são amigos do Tiago e que, se algum dia nós nos separarmos, os amigos irão com ele também. Foi por isso – mas também por termos todos as agendas tão preenchidas e, muitas vezes, exigir um esforço sobrenatural para conseguirmos estar em todo o lado (tantas vezes que já falámos nisso) – que pensei que ninguém viria à minha festa de anos (esta minha insegurança que me acompanha). Também por causa disso, falhei algumas pessoas que demorei demasiado tempo a convidar e depois achei que ficaria mal convidar em cima da hora. Ainda assim, houve muitos amigos que quiseram vir celebrar comigo os meus 37 anos de vida, no sábado passado, dez anos depois de nos termos conhecido. Aos 27 eu era diferente, eles também. Estamos todos muito mais crescidos e gratos por tudo o que a vida nos tem dado, e a vida dá-nos coisas boas se as soubermos aproveitar. E eu estou muito grata pelos amigos que temos.

Este era para ser um post sobre os meus 37 anos, mas acabou por ser um post aos amigos. Porque, sem eles, o meu dia de anos não teria sido tão espectacular.

O bolo estava maravilhoso e foi obra da Sabores da Alma.

Continue Reading

Breve lição de ornitologia

A questão que se coloca agora é: o corvo é um corvo ou o corvo é uma gralha?

O tio João, versado em várias artes desde música a ornitologia, afirma a pés juntos que o corvo Rafael não é um corvo, não senhor, o Rafael é uma gralha, que vive no quintal de um tal Luís (é só ali ao lado) e costuma visitar vários quintais freguesia fora, onde lhe dão de comer. Ora, nunca me tinha passado pela cabeça que o corvo afinal fosse uma gralha. Podia ou não não saber que as gralhas são tão parecidas aos corvos. Na verdade, agora que, contra a minha vontade, me dediquei à ornitologia percebo que pouco sei sobre corvídeos. Ou pássaros, no geral. Por exemplo, aquilo que sempre me pareceram melros a sobrevoar o meu jardim são, afinal, gralhas-de-bico-vermelho. Numa pesquisa exaustiva e, agora, menos tendenciosa, percebi que, de facto, gralhas e corvos dificilmente se distinguem perante olhos desconhecedores. A ser verdade que se trate de uma gralha e não de um corvo, poderei voltar a sair à rua sem antes apurar o ouvido e inspeccionar todos os telhados das redondezas. Afinal, de ataques vingativos de gralhas não reza a História, só mesmo a língua portuguesa!

(O tio João também acha que os corvos não são nada sinal de mau presságio, mas que disparate, se até figuram na bandeira de Lisboa!)

Continue Reading

O corvo Rafael – A Perseguição 

Como já devem ter percebido pelo título, a coisa ficou feia. Uma inocente história de um corvo que dá pelo nome de Rafael e vai comer bolachas à mão do “dono” e que destrói sementeiras tomou proporções drásticas este fim de semana. Quer-me parecer que não vamos lá com meia dúzia de espantalhos acriançados, não…

A fotografia, tirada poucas horas antes do fatídico encontro, não mente: não estamos a falar de um melro! Estou em crer que nem mesmo de um corvo. Isto mais parece um peru, dizia a vizinha Ana, ou até mesmo um urubu! O bicho é gigante, especialmente quando corre para nós e abre as asas. Diz a Infopédia que chega a ter uma envergadura de asas de 120 cm, que é só menos 39 cm da minha altura, portanto fiz bem em correr pela vida!

Mas recuemos no tempo. Depois de um sábado a arrancar ervas daninhas (que a Bumba na Fofinha tão bem descreve), a cavar terra e a pôr terra nova, a plantar e a arranjar estratagemas (que incluem arruda, canela e ocupar os espaços livros com pedras, conchas e vasos) para manter os gatos longe do novo canteiro, fiquei deveras irritada quando vejo o corvo Rafael a rondar. Se de manhã só sobrevoou o sítio, à tarde já estava de patorras no empedrado, cada vez mais próximo da minha relíquia. Quando achei que era altura de mostrar quem manda, aproximei-me dele e chamei “Ó psst, ouve lá, não achas que está na altura de dares de frosques?” Como não fez caso de mim, e continuou a bicar as gerberas, aproximei-me mais e, de mão na anca, insisti: “Rafael, ninguém te quer aqui, baza!” Mas nada. Ou o bicho é mouco ou está a ignorar-me de propósito, pensei. Por via das dúvidas, e porque insisti que tinha de chamar o bicho à razão, fui buscar o regador-aspersor que uso para afastar os gatos sem lhes fazer mal. Aproximei-me do bicho e esguichei. Uma borrifadela. Nenhuma reacção. Duas borrifadelas. Ora bem.

Como é óbvio, eu não estava à espera do que aconteceu a seguir. Ligeiramente incomodado com as borrifadelas, o Rafael virou o bico para mim com desprezo e olhou-me bem nos olhos, e eu olhei bem nos seus olhos pretos e o que vi foi uma espécie de raiva hitchcockiana que me fez, inconscientemente, parar de borrifar e começar a dar passos cautelosos para trás. O Rafael, com nome de anjo mas olhos de demónio, virou-se então totalmente para mim e começou a andar, com passos de avestruz, na minha direcção.

Foi mais ou menos nesta altura que comecei aos gritos. Primeiro com voz sumida, mas quando percebi que aqueles passos eram só para tomar balanço e voar direito a mim, comecei a berrar de forma completamente descontrolada, enquanto corria – pela vida! Na única vez que olhei para trás, já o bicho estava no ar, de asas bem abertas (recordo: até 120 cm de envergadura de asas!), na direcção da minha cabeça! O Tiago, que assistiu a tudo pela janela da cozinha e cedo percebeu que os meus gritos não denunciavam apenas uma gafanhoto gigante, e me abriu a porta no último momento, antes de ser furiosamente arrebatada por um corvo em fúria (posso ou não estar a exagerar nesta parte), garantiu-me que tudo na postura do bicho prenunciava um ataque iminente. Também me disse, sem nunca tirar o ar de gozo na cara (…), que não se percebia bem, pelo meu gesticular que acompanhava os gritos, se o que eu queria era proteger a cabeça, se voar eu também dali para fora.

Agora que tudo passou, posso dizer que já dei umas boas gargalhadas à conta do incidente, mas na altura tive mais medo do que quando saltei para ver o tubarão-baleia. E tudo só porque levou com uns borrifos de água! Bicho mimado!

É claro que uma coisa destas fez com que passasse a noite obcecada a procurar informações sobre corvos e ataques de corvos, que parecem ser bem frequentes em países longínquos como a Austrália e o Canadá. Mas o que encontrei a seguir não me deixou nada descansada:

1 – Os corvos ficam ofendidos e guardam rancor. E tudo só porque levou com uns borrifos de água??
2 – Os corvos têm memória e não esquecem a cara de quem os ofendeu. Mau…
3 – Nem com máscara! Está cada vez melhor…
4 – Os corvos conspiram uns com os outros e podem trazer amigos para se vingarem. Vamos mudar de casa!
5 – Entre as coisas que vou ter de passar a fazer para me proteger do corvo que se vai lembrar de mim e da minha cara (mesmo com máscara) durante os próximos cinco anos está andar no quintal de guarda-chuva e ter sempre amendoins no bolso.

 

Tenho medo.

Continue Reading

Sinais de mudança

Hoje à noite, lá fora, o ar já é mais quente. Ainda não parece primavera, muito menos verão, mas traz-me grande conforto saber que para lá caminhamos. Apesar de ter descoberto recentemente que represento a energia “Solo” do Ki das 9 Estrelas, que corresponde ao fim do verão/início do outono, eu não sou, definitivamente, uma mulher do inverno. E também não sou dessas de acreditar na astrologia, mas aquela coisa do “Solo” fez-me algum sentido.

Sentido, muito sentido, também me fez o curso intensivo de culinária macrobiótica que fiz a semana passada no Instituto Macrobiótico. Motivada por um acontecimento que, afinal, não se veio a concretizar (ou a parvoíce de que foi o universo a puxar-me), inscrevi-me no nível 1. Só queria aprender a cozinhar de forma mais saudável e não estava à espera de ser bombardeada com uma montanha de informação do tipo abre-olhos. A Macrobiótica não é só cozinhar com algas, reduzir o consumo de carne, comer de acordo com as estações. A Macrobiótica é, resumindo a coisa de forma muito pobre, um estilo de vida segundo as energias: a nossa, a dos alimentos, a das estações, a do planeta, da nossa casa, e até a energia dos que nos rodeiam. Fez-me tanto sentido isto (o de usar os alimentos como cura, em vez de recorrer a medicamentos, o de comer o que a terra nos dá, o de respeitar a forma de crescimento dos legumes, cortando-os da forma certa, o de saber ouvir o nosso corpo e dar-lhe aquilo de que necessita, o de, o de, o de…) que agora era capaz de estar aqui horas a falar sobre o que aprendi. Mas para já não vos maço, tanto que ainda tenho muito que ler e praticar até ao nível 2, daqui a um mês.
(Mais info sobre estes cursos aqui.)

Durante este tempo que estive ausente, aconteceram ainda muitas outras coisas, como ter a caixa de compostagem já praticamente cheia e só faltarem cinco letras à Inês para aprender o alfabeto todo, ou ainda ter alugado um escritório para mim, onde passarei a trabalhar diariamente a partir do dia 1 de março. É um passo à frente na carreira, na vida a dois, na minha necessidade de estar sozinha, de ter uma rotina fora de casa, de me distanciar da casa e aprender a separar o trabalho da família e da casa e de tudo o resto. São processos, evoluções, que vamos abraçando à medida de que vamos tendo noção da sua necessidade. Este é só mais um.

Sinto que a vida está a mudar. Não sei se é pela Macrobiótica, ou se serei outra daqui a uns tempos ao deixar o trabalho no sítio dele e a família no sítio dela. Ou se calhar não é nada disto e é só o ar que, lá fora, já está mais quente (também pode ter sido só impressão minha, é claro).

Continue Reading

Capitão Fantástico

Se só puderem ver um filme este ano, vejam este. Mesmo que seja um filme do ano passado e já não esteja nos cinemas, ainda assim, se só puderem ver um filme este ano, vejam este. É fantástico.

Resultado de imagem para capitão fantástico

Quero também muito o vestido de ganga feito com retalhos de jeans que uma das miúdas veste em duas cenas, mas cuja foto não consigo encontrar em lado nenhum – era só para fazer um igual, nada de mais.

Continue Reading

38