O valor do tempo

Porto, 08-06-2018

A última vez que publiquei um artigo no blog foi há exactamente um mês. Artigos, tenho-os escritos e guardados, portanto, não serve a desculpa de não ter nada para dizer. Simplesmente, acabo por nunca carregar no botão Publicar. Com isto, passou-se um mês.

Neste mês, aconteceu muita coisa, entre as quais duas viagens ao Porto, uma em trabalho e outra em lazer. É onde estou agora, recostada no sofá de um Airbnb da Avenida da Boavista com vista para uma sobranceira, mas estéril nespereira, cujos ramos se estendem sobre o pátio verdejante e que nos deviam servir de sombra, caso não estivesse um frio impróprio. A amiga com quem vim ao festival saiu em trabalho e eu, cansada da noite e de vaguear pelas ruas da Baixa sem rumo nem destino, mais não fazendo do que cumprindo uma obrigação de visitar cidade alheia, só porque cá estou, decidi voltar para o apartamento, pôr as pernas ao alto e ligar o portátil para ver o que acontece.

O e-mail só me traz trabalho, no Facebook já nada se passa há muito tempo e blogues é coisa a que já ninguém liga muito. Ainda assim, cá estou, a tentar desculpar-me por ter passado tanto tempo sem dar notícias, ao mesmo tempo que procuro dar um sentido às horas vazias de obrigações que tenho pela frente e ocupá-las com um propósito. Esta minha mania de não conseguir simplesmente estar sem fazer nada levou-me mesmo agora a decidir fazer isso mesmo –  nada – só porque tenho oportunidade para tal. Vou fazer nada porque agora posso, é isso. Assim, de repente, não vejo melhor maneira de dar valor ao meu tempo.

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38

Ontem fiz 38 anos. Parece-me um número bonito, redondinho como são todas as coisas perfeitas, sem arestas ou cantos bicudos. Talvez por isso, por ser um número bonito, espero que este meu ano seja um bocadinho melhor do que o anterior. Não que o anterior tenha sido mau, mas não conheço ninguém que peça para que as coisas continuem exactamente como estão. Queremos sempre mais e melhor, quando não queremos que seja diferente. Faz parte da raça humana nunca estarmos satisfeitos com coisa alguma.

Ainda assim, numeralogias à parte, o meu 38.º dia de aniversário foi marcado por uma notícia muito triste e não há nada mais triste do que a morte. E a Morte, ou Deus, ou a Energia que Dá e Tira não olham cá a meios, muito menos estão atentos ao calendário, quando é altura de arrancar da vida as pessoas de que gostamos. Mas não dispensam a ironia: uma mãe que morre no dia da mãe. As coisas acontecem quando acontecem, é verdade, e, no final de tudo, só nos resta a certeza de que uma data é só mais um dia na nossa vida, um de tantos, com a devida importância, mas sem retirar protagonismo a todos os outros dias que se seguirão.
À última da hora, ainda decidimos reunir meia dúzia de amigos e família para comer o bolo. Um bolo tão bonito como o número que celebra, um bolo elegante, um bolo de anos que era também para ser a minha homenagem às mães da minha família.

Para o ano, o nosso dia da mãe vai ser diferente. E o meu aniversário também. Agora é tocar com a vida para a frente que tenho 364 dias de um número bonito para viver.

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Sítios para comer

Em Sesimbra, abriu mais um novo espaço dedicado à cozinha saudável. Chama-se Malitas (Cozinha com amor) e vem mais uma vez contrariar o pressuposto de que Sesimbra é só peixe. Por muito que eu goste do nosso peixe, Sesimbra é também cada vez mais comida saudável, empadas caseiras, tartes de limão, espaços giros, modernos e acolhedores com vistas desafogadas. A decoração do Malitas foi toda feita à mão (olhem-me só aquele tecto!) e, tal como a comida, também com muito amor. O melhor de tudo? Fica a 3 minutos do meu escritório! Mais uma razão para não sair daqui tão cedo!

O Malitas tem pratos de carne, peixe e vegetarianos, sobremesas divinais, pequenos-almoços para todos os gostos e chás dos que eu gosto. Faz comida para fora, mas, na verdade, não dá vontade de sair lá de dentro…

Fica na Rua da Almoinha nº2 D, Sesimbra, e está aberto de Segunda a Sábado, das 8 às 20h.

*Convém dizer que pago todas as minhas refeições e que só faço publicidade (gratuita) a conceitos com os quais me identifico.

 

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De ti para mim, de mim para ti

Na semana passada, comprei na internet um artigo em segunda mão. Os portes, que eu tinha pago antecipadamente, acabaram por ficar ligeiramente mais caros, mas a pessoa não quis que eu pagasse a diferença. Esta semana, vendi eu um artigo e calculei o preço dos portes através do site online dos CTT. A pessoa pagou pelo artigo mais portes antecipadamente, mas quando fui enviar a encomenda, apercebi-me de que os portes ficavam ligeiramente mais caros. Provavelmente o meu erro de cálculo tinha sido o mesmo da minha primeira vendedora. Em vez de estar a pedir a diferença à minha compradora, deixei estar. Eu não a conhecia de lado nenhum e não tinha de gastar nada pelo envio, mas a minha primeira vendedora também não me conhecia de lado nenhum e não lhe competia a ela gastar um cêntimo pelo envio. Enviei a encomenda à mesma e não falei no assunto. Funcionou como uma espécie de retribuição ao universo pela bondade da primeira compradora. Estamos a falar de cêntimos, mas isto pode aplicar-se ao que quiserem, na verdade. São os actos de bondade aleatória, as pequenas coisas que podemos fazer pelos outros que não nos custam nada, ou tão pouco, em compensação com aquilo que podem trazer: um sorriso, uma sensação de paz e conforto, um pouco de esperança na humanidade (quando parece começar a rarear).

Esta semana não tem sido fácil. Começou bem, com uma excelente notícia, mas acabou mal. Hoje mandaram-me este vídeo, ou melhor, um link onde tive conhecimento deste vídeo, e gostei tanto que me sinto no dever de partilhá-lo convosco. Partilhem-no também.
Talvez a semana não tenha de acabar mal.

https://vimeo.com/254224564

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Leva-me numa roadtrip pela Andaluzia

Aproveitámos a pausa do Carnaval para fugir da loucura carnavalesca de Sesimbra e ir dar uma volta ao país vizinho. Inicialmente, pensámos ir a Salamanca e passar na estância de esqui Bajar para as miúdas brincarem um pouco na neve. Mas as baixas temperaturas desencorajaram-nos. À última hora, alterámos a rota; seguiríamos para sul: Córdoba, Málaga e Sevilha.

Foram uns dias incríveis, cheios de sol e com direito a tirar o casaco durante as horas de maior calor. Depois do queixume inicial (ora estavam fartas de andar de carro, ora estavam fartas de andar, ora a comida não era do agrado, ora estavam cheias de fome, ora queriam beliche, ora não queriam beliche…), as lamúrias pararam como que por milagre e, quando chegámos a Sevilha, as miúdas já estavam completamente adaptadas (ou conformadas) ao nosso estilo de viagem.

Foram umas férias de que não nos vamos esquecer tão cedo. Felizmente, não por algum acontecimento mau e marcante, mas por ter corrido tudo tal como planeáramos e por termos sido sempre brindados com sol e calor.
Comemos uma tortilha de batata que mais parecia um bolo e serviram-nos torradas com a manteiga em forma de bola de gelado. Comemos uma paella que, não sendo a melhor que já comemos, naquele dia nos soube pela vida. No último dia, comemos uns churros molhados em chocolate quente que, para as mais pequenas,  entraram logo para o top das coisas de quem ais gostaram das férias. Passeámos pelas ruas do casco viejo, assistimos a espectáculos de sevilhanas de rua e a um cortejo de Carnaval. Fizemos piqueniques à beira de lagoas e em parques infantis desertos e percorremos Málaga de bicicleta e trotinete. Em Sevilha, andámos de barco e alugámos uma ciclotour no Parque Maria Luísa. Perseguimos bolas gigantes de sabão e comprámos azeitonas no mercado. Ficámos num bed&breakfast fantástico, cujos anfitriões, o Carlos e a Rosa, nos receberam como reis. A Rosa, tendo vivido em Lisboa e sentindo um grande carinho pelos portugueses, abraçava-nos quando chegávamos ao pequeno-almoço como se nos quisesse meter no coração e foi incrivelmente doce com as miúdas. Se houve alguma coisa que ficou por fazer nestas férias foi, talvez, explorar um pouco mais Málaga. Mas não faltarão, decerto, mais oportunidades.

Em Córdoba, na Ponte Romana
Vista para Málaga
Málaga sobre rodas
Uma tortilha por dia
Passeio de barco na Plaza de España
Uma perdição.
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