Desejo

Parece que ontem houve estrelas cadentes. Não sabemos, porque não as vimos, mas tentámos. À janela, perguntei-lhes que desejos tinham preparado para pedir assim que avistassem uma. A Alice disse que ia pedir às estrelas para voltar à escola antiga. Eu disse que o meu desejo era que ela fosse feliz na escola nova.

As lágrimas caíram-lhe sem pré-aviso. “Mas eu estou feliz na escola nova” , respondeu, aos soluços. “Só que tenho muitas saudades da minha escola antiga.”

Ela já percebeu isso. Já todos percebemos isso. As saudades que sente são só mesmo isso, saudades, e não o reflexo de qualquer mal-estar na escola nova. Prova disso são as novas amigas que a vêm buscar à porta, quando ela se agarra às minhas pernas. “Mamã, fica.”

Não tem sido fácil. Sobretudo depois de uma fantástica primeira semana na escola nova que em nada deixava adivinhar o que aí vinha. Mas vai passar. É o que todos nos dizem, é o que sabemos sem explicar bem porquê. Teria dado jeito uma estrela cadente para lhe pedir que passasse só um bocadinho mais depressa. Mas o tempo tem o seu tempo e, pronto, como nada podemos fazer para o apressar, também está bem assim.

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Agosto

Acabou-se Agosto numa casa com cheiro a vinho, nozes e figos secos, com direito a banhos de piscina intercalados com vindimas e uvas pisadas à moda antiga, e acompanhados de boa comida, bom vinho e boa conversa, vantagens de ter amigos apaixonados por vinho e pela terra que o faz.

Foi um longo mês; deu para fazer tanta coisa que no meu calendário interno parece ter passado o dobro do tempo. Um pouco como Janeiro, mas em bom. Houve tempo para estar sem miúdas e com miúdas, estar com amigos, fazer muito desporto, pensar em mim, tomar decisões para os últimos quatro meses do ano, organizar a primeira festa de pijama cá em casa, fazer um curso de costura com a Inês, ir apanhar amoras silvestres, figos e marmelos de árvores de ninguém, e, por último, participar nas minhas primeiras vindimas.

Venha Setembro.

Apanhar o cacilheiro só para ir comer um gelado na outra margem.
Fez um top, uma bolsinha e três fitas para o cabelo.
Esta gravura da Fauna do Parque Natural Donana estava num quarto onde dormimos e apeteceu-me levá-la para casa.
Além da fruta, também colhi umas flores silvestres.
Vindimas. Uvas para vinho tinto e vinho rosé. Alguns cortes nos dedos. Um escaldão nas costas. Uma experiência a repetir.
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Férias

Não gosto muito de casamentos, confesso. Chateiam-me as roupas, os sapatos, o cabelo, a prenda, o protocolo, a cerimónia. Se pudesse escolher, iria só àquelas celebrações informais, em casa, na praia ou no civil, sem sessões fotográficas intermináveis nem menu de 5 pratos. Aquelas festas em que os próprios noivos se põem a arrumar a loiça no final da festa, uma das imagens que nunca esquecerei, compromisso para a vida, na saúde e na doença, no bom e no mau, no limpo e no sujo, estamos juntos nisto.

Ainda assim, este ano, as nossas férias começam com um casamento. Um daqueles resultados da globalização, ela basca, nome impronunciável, ele português a viver em Macau, cerimónia para os lados de Bilbao. Aproveitamos a deixa e planeamos uma road trip para o regresso. Para as miúdas, ir a Espanha ainda é como ir para um continente diferente. Desta vez prometo não lhes dar nenhum sermão quando se queixarem, pela enésima vez, que estão cansadas ou que não gostam da comida. Porque com a vossa idade, eu só ia para Quarteira. Sabem qual foi a primeira vez a que saí de Portugal, sabem? Prometo.

Comigo levo este livro que está a ser tão (expectavelmente) bom, que estou a tentar adiar o seu fim ao máximo, – e o alívio de ter abandonado o Facebook durante um mês. Alívio de não ser bombardeada com notícias tristes e catastróficas sobre o fim do mundo, a maldade humana, o aquecimento global. Claro que podia simplesmente resistir à tentação de abrir a aplicação, mas, sinceramente, acho que o mundo sobrevive um mês sem sessão iniciada.

Agora, férias.

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As coisas são como são

A Kika não voltou. Já passou mais de um mês e a nossa esperança foi desvanecendo. As miúdas não sabem se hão de falar nela no passado ou no presente, mas eu continuo a dizer que temos duas gatas, só que uma delas foi adoptada por outra família.

A Olívia, não obstante o stress dos primeiros dias – que fez com que o seu pelo ficasse a parecer palha de aço -, já parece ter esquecido que não foi sempre a única gata da casa. Ganhou o direito a dormir connosco, porque “coitadinha…”, e já se acalmou mais na caça às lagartixas e aos pássaros (felizmente!), pois a competição agora é menor.

Parecendo que não tem nada que ver, mas tem, as novas cortinas da Frida, que já não são bem novas, continuam a dar muita cor à desarrumação permanente do quarto das brincadeiras. Porque há coisas que temos simplesmente de aceitar que são como são.

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