Estava a ouvir o Fala com Ela com o Miguel Esteves Cardoso e, às tantas, ele fala sobre a utilidade da tristeza, que serve para nos sentirmos vivos e devemos abraçá-la para sentirmos que ainda conseguimos sentir. É o meu resumo, ele não disse isto assim, mas daquilo que os outros dizem nós retiramos sempre aquilo que nos convém.
Nos últimos dias, tenho-me sentido uma espécie de traidora do meu próprio luto. Depois de duas semanas, já estava a tentar fazer yoga, já tinha voltado aos meus sumos verdes; estive apenas 20 dias sem aparecer nas redes sociais, pelo menos não com publicações próprias, e quem me vir na rua já não diz que carrego um peso às costas. Já não sinto tanto que me foi tirada uma coisa; agora sinto que foi aquilo que foi, uma inevitabilidade para a qual a ciência ainda não tem explicação.
Mas como contabilizar o luto? Ou melhor, o luto contabiliza-se? Há um número mínimo de dias durante os quais temos de estar tristes para que a nossa tristeza seja validada?
Depois ele fala sobre a necessidade de escrever para chamar a atenção. Mas eu tenho pensado nela como uma necessidade de cicatrização. Chamaria a atenção se fizesse alarde destes posts nas redes sociais. Como não faço, não sei quem é que cá vem, mas desconfio que seja ninguém. E acho que está bem assim.
Seja como for, apetece-me retomar a emissão normal da vida. Tenho podcasts e séries para recomendar. Que a vida tenha sempre uma parte mundana onde nos possamos encher de ruído branco (mesmo, especialmente, em confinamento) .