Quem me conhece ou quem lê o blogue há algum tempo, sabe que adoro Berlim. Vivi lá mais de 4 anos e, apesar de já ter voltado para Portugal há mais de dez, para mim continua a ser a cidade. Gosto muito de Lisboa, e de Sesimbra, mesmo não sendo cidade, mas nenhum outro sítio me faz sentir-me tão bem, tão em casa, tão fascinada e atenta ao pormenor. De vez em quando vou lá, não só por ter lá amigos, mas porque simplesmente preciso de lá ir, seja para aplacar as saudades, seja para renovar as memórias, seja apenas para ir mantendo o meu alemão actualizado, que tanto preciso para o meu trabalho.
Por isso, foi com grande entusiasmo que aceitei uma proposta de ir a Berlim em trabalho, enquanto tradutora na Feira de Turismo de Berlim. Foi inesperado e aconteceu tudo muito depressa. Dividia-me entre a insegurança de achar que poderia não estar à altura da tarefa (afinal eu sou uma tradutora que se esconde atrás do ecrã, que tem tempo para pensar nas palavras, para rever o trabalho antes de apresentar o resultado final e não tenho o treino necessário para a interpretação) e a ambição de alargar as minhas competências, mas o trabalho acabou por não ser nenhum bicho de sete cabeças – apesar de continuar a achar que o meu lugar é mesmo nos bastidores, onde me sinto realmente bem – e os cinco dias passaram a correr.
Posso não ter aprendido muito em termos profissionais – não me parece que vá acrescentar “acompanhamento a feiras” aos serviços que ofereço -, mas aprendi muito em termos pessoais. Aprendi, por exemplo, a tirar o máximo partido de uma situação não ideal e a ver o lado positivo das coisas. Há algum tempo que andava a tentar pôr isso em prática, a ser grata pelo que tenho, e este foi o momento ideal para o fazer. O hotel não primava pelo conforto, mas era limpo e sossegado, o que me permitiu dormir 4 noites de um sono repousante como nem sempre se consegue quando se tem filhos. Isto das feiras não é mesmo a minha praia, mas permitiu-me entrar em contacto com outras culturas, conhecer pessoas novas, falar alemão, inglês e espanhol no mesmo dia e ainda me soube bem trocar a roupa do dia-a-dia por trajes mais formais.
De Berlim, em si, ficou-me pouco. Conseguia ter alguns momentos de lazer apenas à noite, mas só tive direito a duas noites para mim, que aproveitei para percorrer a minha memory lane, comprar uns souvenirs para as miúdas, literatura para mim (podia passar horas na Dussmann…) e ainda revisitar amigos. Nestes momentos, senti um misto de emoções. Por um lado, foi como se nunca me tivesse vindo embora, tal é o à vontade e a destreza com que ainda me movimento na cidade. Por outro lado, e por muito enquadrada que me sinta lá, percebi, como percebo sempre que lá vou, que o meu lugar já não é lá. É aqui, em Sesimbra, com o Tiago e as meninas, ao pé do mar, do sol e da família, dos amigos e das sardinhadas, da rotina que preenche a nossa vida calma, da minha horta e do chilrear dos pássaros. Nem tudo é perfeito, há muita coisa que eu gostaria de mudar. Mas ando a aprender a viver com o que tenho. E, vai parecer um cliché, mas nestes últimos dias aquilo que tenho pareceu-me simplesmente perfeito.