Jejum

Desde que vim de férias, nunca mais consegui fazer jejum intermitente. Andava atinadinha. Fazia jejuns mínimos de 13 ou 14 horas e, uma ou duas vezes por semana, encaixava um de 16 horas. Isto não é nada para muita gente, mas para mim era muito bom. Eu tenho a convicção de que tudo se cura com a comida e, ultimamente, tenho acalentado a ideia de que muito se cura pela ausência (controlada) de comida. Só que as férias deste verão foram muito agressivas em termos de comida e bebida, e o corpo, claro está, habituou-se aos excessos. Voltar ao regime está a ser muito difícil, especialmente se me lembrar que tenho um saco cheio de figos secos do mais maravilhoso que há. E que ficam muito bem nas papas de aveia logo de manhã.

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Comida rápida

Sesimbra era, até agora, uma das únicas vilas em Portugal onde não havia um McDonald’s. Abriu um há uns dias. A poucos metros, há um Burger King, que também abriu há uns dias. Podia ficar por aqui e deixar-vos a pensar sobre a razão do interesse repentino por Sesimbra pelos magnatas da fast food, mas venho falar-vos de outra coisa.

Fomos lá hoje. Eu não queria, odeio, irrita-me todo o lixo, irritam-me os preços, incomodam-me as pessoas. Mas as minhas filhas, apesar de até nem se poderem queixar da qualidade da comida que ingerem em casa, acham que o McDonald’s é a quinta-essência da gastronomia, e o pai prometeu que lá íamos em troca de ajuda para apanhar pinhas…

Então, fomos. Para não dar a visita por perdida, fui a pé até lá. É menos de 1 km, faz-se bem e dá para ir espreitando os jardins dos vizinhos e tirar ideias de como montar um jardim. Ou como não montar um jardim. Há de tudo.

Lá chegados, eles pediram cada um o seu hamburguer e eu escolhi um menu de sopa e salada. Vou repetir: sopa e salada. Legumes, portanto. Isto é importante para poderem fazer uma relação nas vossas cabeças quando, a seguir, vos disser que uma sopa e salada ficam mais caras do que um menu de hamburguer e batatas. Acho um bocado escandaloso. Ainda tentei iniciar uma discussão sobre o assunto, mas levei logo com o argumento de “isto não é uma casa de saladas”, como se fosse um favor que o McDonald’s estivesse a fazer aos esquisitinhos. Calei-me, porque era a quarta vez que me queixava desde que chegáramos e sei que posso ser bastante aborrecida quando estou contrariada.

No total, mesmo com a roubalheira do meu menu, pagámos 30 euros por um jantar para quatro. Lá fora, uma senhora mesmo muito gorda precisou de fazer algumas acrobacias para conseguir entrar no carro. E, claro, vai ali jantar, porque é bom e barato.

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Uma dieta que, mesmo sendo, não é para a vida

Tudo começou com uma dor do lado direito. Na verdade, tudo começou com o grande stress que vivi em Outubro passado, mas sobre essa relação falarei mais adiante. A dor surgiu tímida, infrequente, sobretudo no fim das refeições. Cedo a associei à comida e o meu primeiro pensamento foi para uma vesícula preguiçosa. A primeira médica a que fui apalpou-me a barriga daquele lado, e eu ia saltando da maca. O segundo médico a que fui, um mês depois, haveria de me apalpar o lado direito e eu haveria de saltar ainda mais alto da maca. Ao longo de um mês, a dor foi aumentando, de intensidade e duração. Depois dos poucos fritos que comi na véspera de Natal, foi particularmente duro. Lembro-me de mal me aguentar de pé, direita.

No início do ano, fui ao médico. “Doutor, é como se tivesse uma bola de ténis do lado direito da barriga. Acordo, sinto-a. Deito-me, sinto-a. Tenho medo.” A ecografia foi inconclusiva, mas a TAC assinalou uma inflamação do intestino. A sigmoide, uma secção do intestino que deveria estar do lado esquerdo, estava agora do lado direito. O intestino havia inflamado tanto que havia aumentado de tamanho. Daí a dor. Daí a barriga que nunca mais desinchava. Daí o desconforto depois de comer, os gases, o inchaço. Causa? Provavelmente stress ou um evento traumático. Pois. Tratamento: medicação para síndrome do cólon irritável. Para a vida.

Como disse? Medicação para a vida? Síndrome do cólon irritável?

Há sensivelmente 20 anos, já tinha andado assim, com dores de barriga, desconforto, gases, prisão de ventre seguida de episódios de diarreia, alguns alimentos que funcionavam melhor do que outros. Fui ao médico, fiz uma colonoscopia. Eu deveria ter uns 21, 22 anos. Lembro-me de ir a casa do médico, ao consultório dele que era na mesma casa onde vivia, ali na Rua do Alecrim, e de ele me ter dito que tomasse uns comprimidos. Eram para a vida. Quem tem síndrome do cólon irritável nunca deixa de ter, disse-me, renuncie aos croissants e tome isto antes das refeições e vai ver que terá mais qualidade de vida. Só que os comprimidos causavam outros efeitos: manchas na pele, espinhas, mais facilidade em engordar. Quem é que, com 21, 22 anos, quer isso para a vida?

Pouco depois, haveria de me mudar para a Alemanha e deixar de os tomar. E, inconscientemente, acabei por apagar o diagnóstico da minha mente.

É um bocado estranho dizer isto, mas eu esqueci-me mesmo de que tinha sido diagnosticada com síndrome do cólon irritável. Ao longo dos 20 anos seguintes, haveria de me contentar com o facto de sofrer dos intestinos. Fazia parte de mim e havia alguns alimentos que me faziam mais mal do que outros (quanto mais processado, pior; trinta minutos depois de comer, eu ganharia qualquer concurso sobre se aquele pão era de fabrico artesanal ou industrial!). Deixei de beber leite de vaca, deixei de comer comida processada. A coisa foi-se levando, sem sobressaltos de maior. Juro que nunca mais pensei no diagnóstico. Até Janeiro deste ano.

Como se percebe pelo nome, a “síndrome do cólon irritável” está bastante associada ao stress. Terão o grande desgosto de Outubro passado e todas as alterações hormonais associadas sido o gatilho para que a doença se voltasse a manifestar? Tudo aponta para que sim.

Como não sou de me contentar com tratamentos químicos para o resto da vida sem antes tentar mudanças de estilo de vida e alimentação, comecei a ler sobre o assunto. Cedo percebi que há uma dieta aconselhada para este tipo de casos: a dieta FODMAP (acrónimo para os cinco grandes grupos de hidratos de carbono: frutose, lactose, frutanos, galacto-oligossacarídeos e polióis, que são mal absorvidos pelo intestino delgado). Comprei um livro sobre o assunto que estudei profundamente. E outro.

Percebi que a dieta FODMAP não é uma dieta para a vida, mas consiste, sim, na eliminação desses alimentos durante 4 a 6 semanas, ou até se eliminarem todos os sintomas, seguida da introdução faseada e gradual dos alimentos FODMAP (muito semelhante ao protocolo de introdução de alimentos sólidos nos bebés) com o intuito de verificar quais os alimentos que não toleramos.

Decidi fazer. Consultei uma nutricionista e estou, portanto, a ser devidamente acompanhada. Falei com a médica de Dezembro, que confirmou o diagnóstico e me deu carta verde.

Entretanto, já sei de cor os alimentos que posso comer – que são menos do que os que posso comer, portanto, mais fáceis de decorar – mas, na dúvida, valho-me deste site. É uma dieta bastante restritiva, um pouco à semelhança da dieta cetogénica, mas com aveia e arroz permitidos. Porém, faz muita diferença fazer uma dieta para emagrecer ou fazer uma dieta por questões de saúde, quando sabemos que, se comermos algum dos alimentos proibidos, vamos passar mal. Ou seja, eu comecei a não querer comer esses alimentos, a nem sequer os desejar.

Quatro semanas depois, a dor tinha passado, a barriga tinha desinchado, todos os outros sintomas tinham aliviado e, cereja no topo do bolo, tinha perdido 2 kg! Yey! À quinta semana, fui autorizada a começar a introdução dos alimentos. Este, no cimo de 5 semanas de restrição alimentar, é um processo que requer muito mais paciência e disciplina. Meio iogurte no primeiro dia, um iogurte inteiro no segundo dia, dois iogurtes no terceiro dia, depois pára três dias, mesmo que tenha corrido bem (se tiver corrido mal, é parar logo e retomar a dieta FODMAP mais três dias). Depois disso, há outro grupo de alimentos a introduzir e o processo recomeça. Meia maçã no primeiro dia, uma maçã no segundo dia, duas maçãs no terceiro dia. E assim por diante, até termos dado volta a todos os grupos de alimentos, a todos os alimentos.

O iogurte correu bem; a maçã só moderadamente (quer dizer que as duas maçãs ao terceiro dia não foram muito bem recebidas – e vocês pensam, o quê, maçã? Uma maçã por dia nem sabe o bem que lhe fazia? Pois é, eu nem queria acreditar…), e os primeiros dias da cebola… so far so good! Afinal de contas, comi cebola diariamente ao longo de toda a minha vida e era agora que me ia fazer mal? Melhor não, certo? Quero muito acreditar que não!

O lado positivo disto são dois:

  1. Não podia haver melhor altura para testar estas intolerâncias do que agora, em plena pandemia, em que não há eventos, nem jantares com amigos, nem refeições em restaurantes. Logo, tenho mais tempo e disponibilidade para preparar e confecionar a minha comida. Passámos a fazer refogados com aipo (e funciona) e descobri um pão de banana e canela que me faz o gostinho ao dente. Tudo se faz, quando temos quem nos ajuda e apoia e, bom, quando tem mesmo de ser.
  2. Estou autorizada a beber vinho tinto. Haverá melhor notícia do que esta numa dieta de restrição??

Sinto-me realmente bem desde que comecei esta dieta. Aquela dor do lado direito desapareceu, a barriga desinchou, os níveis de inflamação reduziram exponencialmente (com base em análises ao sangue) e sinto-me muito melhor e com mais energia. Não é uma dieta para a vida, como já disse, o que me descansa bastante. Que eu não possa comer pão? Tudo bem. Posso manter-me no queijinho e no presunto. Que eu não possa comer um trifle?? Oh céus, hei de arranjar solução para isso!

Lá para junho (parece uma vida até lá, não é?) já vou perceber o que é que me faz mal e saberei como evitar esses alimentos e adaptar a minha alimentação para ter mais qualidade de vida. Vai ser difícil nas férias, mas como me disse a médica: não se esqueça de que, nas férias, o nosso nível de stress reduz imenso e esta síndrome está muito associada ao stress.
Stress, sempre o stress.

Entretanto, vou aprendendo a adaptar a minha alimentação e o meu paladar e, digo-vos, seis semanas depois e continuo a gostar de comer, a tratar-me bem e, o melhor de tudo, ainda não precisei de comprimidos.

(As duas últimas fotos foram tiradas logo no início da dieta e representam o meu desconhecimento da altura: a romã está proibida nesta dieta (mas não me deu sintomas, por isso, há esperança!) e a quantidade de amêndoas é capaz de ter sido too much! A massa que se vê é de arroz, o pão de farinha e o crepe, de banana e aveia. Nabo grelhado é surpreendentemente saboroso. Eu sei que não se devem comer morangos fora de época, mas quando a lista de fruta permitida é tão reduzida, fechamos os olhos a algumas coisas.)

Se alguém quiser saber mais sobre isto, terei todo o gosto em trocar umas opiniões sobre o assunto.

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