Estou a duas horas de fazer o meu primeiro mergulho no mar. Só tive conhecimento disto ontem, ao final do dia, o que não me deu muito tempo para stressar. Fiz uma refeição leve ao jantar, sem álcool nem alimentos produtores de gases (é que debaixo de água, com a pressão, todo o ar que existe dentro de nós se comprime e expande…), preparei as coisas, fato de banho da natação, toalha daquelas tipo túnica para não ter frio enquanto limpo e arrumo o equipamento, e deitei-me cedo. Não me sentia nervosa, mas de qualquer forma tomei o calmante que tenho para casos SOS e que garante que durmo bem.
Dormi bem. Sonhei com a Olívia Rodrigo e não com o mar, o que é sinal de que a minha mente esteve ocupada a processar a histeria da minha filha mais velha quando soube que a sua paixão musical vem a Portugal para o ano, em vez de antecipar a minha ansiedade.
Há duas coisas que podem acontecer lá em baixo: a) entrar em pânico; b) sentir-me estranhamente calma e que eu e o ambiente aquático somos um só. Aposto mais na primeira. Mas como já me conheço, também sei que me vou conseguir controlar e só vou chorar no carro, ou em casa, quando sentir a descarga de adrenalina.
Agora era altura de eu dizer que sempre quis fazer isto, mas seria mentira. Eu nunca quis fazer isto, o que até a mim causa estranheza e confere pouca legitimidade a esta ideia maluca.
Apesar de nos primeiros mergulhos não descermos a grandes profundidades e haver, por isso, pouco risco de me acontecer alguma coisa devido a subidas descontroladas, deixo em testamento:
– o meu carro para o meu marido;
– a minha máquina de costura para a minha filha mais nova;
– as minhas roupas, jóias, calçado e acessórios para a minha filha mais velha, que assim escusa de me pedir sempre que os quiser usar;
– aos meus amigos, deixo os psicoativos e as garrafas de vinho.
Se eu sobreviver, isto fica sem efeito, tá?