A natureza tem várias maneiras de, ao longo do ano, me ir relembrando de que há ciclos e um rumo natural que certas coisas seguem, mesmo quando parece que tudo o resto se desnorteia.
É o caso da aranhas de sangue que aparecem em maio, minúsculas e metediças, enchendo as paredes e pintalgando os parapeitos; é o caso dos besouros no verão, que parecem emergir da terra à noitinha, voando desorientados numa louca dança de acasalamento; ou das libelinhas, que em setembro rumam a terras mais quentes, cruzando os céus de Sesimbra em voo raso, ou ainda das flores cujo nome desconheço e que despontam sempre por esta altura, lembrando-nos de que há beleza no fim do verão.
Agarro-me a estas certezas quando me sinto fora de pé. A vida tem sempre forma de repor o sítio às coisas.