Quarto de menina

Esta noite, vou dormir no meu quarto de menina. Não está exactamente igual; já não está cá a aparelhagem onde ouvia a Super FM, mas o edredão é o mesmo e ainda está pendurado o quadro de cortiça com os bilhetes dos festivais.

É só uma noite. Já tomei as gotas de melamil e vou pôr os tampões, porque me lembro da última vez em que aqui dormi, quando vim da Alemanha, e de todos os barulhos me terem feito confusão, os passos dos meus pais, o ranger das escadas, as portas a fechar no trinco. Ao fim de três noites, não aguentei e mudei-me para o sótão. Três meses depois, mudei-me para Campo de Ourique e assim foi, de mudança em mudança, até chegarmos ao dia de hoje em que partilhei uma garrafa de tinto com o meu pai ao jantar e deixei a minha mãe a contar histórias de embalar enquanto me vim enroscar no meu quarto de menina.

Lá fora, chove que se desunha.

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