Apareceu, pela segunda vez, um ouriço no nosso quintal. Já eram quase onze da noite, por isso não me pus a telefonar a ninguém para o vir resgatar (parece que os ouriços são uma espécie ameaçada que requer alguns cuidados), mas deixei-lhe o portão aberto para não se voltar a entalar. A Olívia, a nossa gata, andou sempre de volta dele com cautela, ciente dos riscos que corria caso lhe deitasse a pata em cima. É curioso como os animais evitam instintivamente situações espinhosas e percebem com que espécies não devem fazer farinha. Os humanos, infelizmente, nem todos têm o instinto bem regulado. E eu, a julgar pelas vezes que me desiludo e que acredito que as pessoas podem perder os espinhos, devo ter vindo ao mundo com o meu irremediavelmente avariado.