Faz por esta altura um ano que descobri estar grávida do bebé que não foi. Na altura, ainda não sabia disso, naturalmente, e a notícia chegou como uma surpresa de quem passou anos à espera de que lhe fizessem uma festa-surpresa e depois, quando efetivamente lha fazem num aniversário ímpar e desengraçado, já não sabe o que sentir. Foi num domingo de manhã e lembro-me de estarmos sentados na cama, as miúdas ainda a dormir, e ele ter lançado a pergunta “e agora”. A manhã decorreu como a manhã normal de partida, as miúdas na piscina enquanto nós deixávamos a casa pronta para os próximos hóspedes, mas ao almoço já não bebi vinho.
Ainda não tinha voltado a esta casa desde esse dia. E não faz mal, não é como se lá tivesse entrado desta vez e tivesse sido bafejada com o ar pesado das memórias tristes. É só que ligo muito a datas e às coincidências. E ontem, no dia em que regressei à casa, foi o dia da grávida, então comecei a lembrar-me destas coisas. O primeiro aniversário do filho perdido está próximo e tenho de me preparar para a avalanche. Divido-me em várias hipóteses. Talvez pensar nestas coisas me faça mal. Talvez me faça melhor falar sobre elas. Talvez possa tudo ficar como estava, estava tudo tão bem. Enxoto os pensamentos como a uma mosca chata e viro-me para apanhar sol do outro lado.