Tatuagem

A maior parte das pessoas acha graça à minha tatuagem; diz-me que está tão bem desenhada, que condiz tanto comigo, que grande coragem para tatuar assim o antebraço. Mas noutras noto um arrepio, uma dificuldade visível em concentrar o olhar longe do pedaço de pele bracejante. Não vou, como é óbvio, esconder o braço de olhares reprovadores. Se o fiz, foi porque quis, porque gosto, porque assim o decidi do alto dos meus 41 anos que me legitimam as decisões. Se soubessem o que me levou a fazê-lo talvez compreendessem melhor, ou então lançavam-me um daqueles olhares de pena que não suporto. Eu sei que a mim me ajudou a fechar o ciclo. Poderá naturalmente não estar relacionado, mas desde que fiz a tatuagem que pensei, pela primeira vez, que foi pelo melhor que aconteceu o que aconteceu. Não sei se, neste momento, estaria talhada para acolher um recém-nascido. Talvez seja por isso que as mulheres precisem de nove meses: para se mentalizarem de que vão ser mães. Eu tive quase tanto para me mentalizar de que não vou ser mãe outra vez e talvez seja essa a ideia que tenha germinado em mim. Depois, claro, assola-me a culpa por pensar desta forma. Mas, por fim, concluo que eu não tenho culpa. E não é que pense assim ou assado. Estou simplesmente a seguir em frente.

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