A professora de Português da mais velha enviou um e-mail a desafiar os encarregados de educação a irem à sala falar sobre livros, incentivar à leitura ou, simplesmente, partilhar o gosto pela leitura. Na pré-escola ou no primeiro ciclo, eu seria pessoa para me alistar imediatamente. Não que adore estar em frente de um grupo de miúdos a fazer macacadas ou a tentar ser fixe, pelo contrário, mas as minhas filhas pediam-me recorrentemente que o fizesse e a verdade é que corria sempre bem e era muito bem recebida pelos miúdos, para quem é sempre uma excitação quando vem alguém de fora fazer qualquer coisa – não importa o quê.
Mas no 5.º ano a conversa é outra. Pôr-me à frente de 26 miúdos à beira da puberdade e, ainda por cima, de máscara, sem lhes conseguir interpretar as microexpressões, era coisa para me tirar o sono vários dias seguidos. Felizmente, a Inês arrumou o assunto rapidamente: Mãe, nem penses, morria de vergonha se fosses falar à minha turma.
Eu não lhe disse que quem morreria de vergonha era eu e fiz aquele ar de enfado fingido que as mães fazem quando não querem mostrar como estão aliviadas. De qualquer maneira, não sei do que poderia ir lá falar. Não poderia, certamente, ir dissertar sobre o último livro do Javier Marías que estou a ler, Não Mais Amores, uma coletânea de contos, dos quais, cito, ele não se envergonha (é bastante reconfortante ouvir um autor aclamado dizer que se envergonha de coisas que escreveu) ― e com o qual estou a aprender tudo o que se dizer num conto pequeno, de escrita simples e fluida ―, e sobre a sua obsessão pelo nome Luisa. Já tinha reparado que todas, ou muitas, das suas personagens femininas se chamam Luisa, mas nestes contos isso é realmente flagrante. Mas não há nada misterioso por detrás da escolha do nome, na verdade é enfadonhamente simples:
Acho isto delicioso. Mas duvido que miúdos do 5.º ano o fossem achar minimamente digno de nota.