O cerco começa a apertar.
Uma sucursal de um banco ao pé do meu escritório fechou; no agrupamento de escolas das minhas filhas alunos, professores e auxiliares começam a cair, que nem peças de dominó. Quase parece março, em que a cada hora nos chegavam novas e cada vez mais aterradoras notícias. Todos os dias, há alguém que conhece alguém que testou positivo. Uma mãe de uma colega da irmã de uma colega da mais velha. É pequena esta terra, em que parece que toda a gente se conhece, que toda a gente esteve com toda a gente, mesmo quando sabemos impossível darmo-nos todos com todos. Estamos a chegar àquela fase em que pensamos quando ― e já não se ― é que nos vai calhar a nós.
Tirando isso, tento revestir a minha vida da normalidade que lhe quero dar. Li “A História de Uma Serva” em cinco dias, fruto de um fim de semana prolongado sem eventos sociais, e iniciei a leitura em família de “O Feiticeiro de Oz”, que comprei na Lello, um capítulo por noite. Gosto de ouvir a Inês a ler, acho que lê muito bem, não é por ser minha filha, e surpreende-me a capacidade de a Alice, seis anos, reter a história de um dia para o outro, mesmo que sempre me pareça que não está a prestar a mínima atenção à leitura… De resto, ando a debater-me com “O Quarto de Giovanni”, que me parece tão despido de toda a profundidade que pensava encontrar em James Baldwin. É culpa das expectativas, eu sei. Aconteceu-me o mesmo com o Manuel Vilas, que é capaz de ter sido a maior seca lamechas que me passou pelas mãos nos últimos anos.
Trabalho muito e durmo mais ou menos, enquanto me preparo para acolher novas mudança na nossa vida. Uma coisa que este ano nos ensinou é que não vale a pena ter expectativas, seja na vida seja com Baldwin, e que pouco mais nos resta do que ir lendo uma página de cada vez.