A Inês conta, sem qualquer ponta de queixume, mais como uma constatação dos factos, que os colegas passam os intervalos no seu rectângulo agarrados ao telemóvel, só ela é que não, porque não tem um telemóvel com cartão SIM, o que é basicamente igual a não ter. Os colegas têm cartão e dados móveis e redes sociais, até conta no Instagram com tão tenra idade, e depois passam os dez minutos de intervalo com a cabeça enfiada no aparelho a trocar fotos entre si, a jogar ou a fazer sabe-se lá o que é crianças de dez anos fazem na internet. Imagino 23 miúdos, cada um no seu canto, sozinhos, a trocar a convivência com os colegas pela companhia do telefone e penso que humanos são estes que estamos a ajudar a criar? Os pais não terão certamente visto o documentário The Social Dilemma e a escola é capaz de ter mais que fazer do que proibir o uso do telefone ou desligar a wi-fi, mas a mim preocupa-me a forma desenfreada como a internet entrou nas nossas vidas. Estamos a assistir à generalização de um comportamento viciante e a dar o nosso consentimento para isso. Em comparação, o facto de terem de deixado de medir a temperatura à entrada não me parece, de todo, grave.