E cá estou eu outra vez, a poucos dias do fim do ano, a fazer um apanhado das coisas mais importantes que me aconteceram ao longo dos últimos 12 meses. Sei que foi um bom ano. Ainda assim, socorro-me do telefone, onde tenho capturados os momentos mais importantes da nossa vida em família, porque se assim não fosse, provavelmente não me aperceberia de que consegui – melhor do que à primeira vista me parece – fazer jus à palavra que, no início do ano, escolhi como intenção para 2019: abrandar. Apesar de termos andado feitos saltimbancos em várias viagens (acho que nunca havíamos viajado tanto a quatro – Varsóvia, norte de Espanha, Toscana – sinal de que as miúdas estão mais crescidas e que já nos dá mais prazer a todos aventurarmo-nos fora de portas), sinto que foi um ano de muita introspeção, muito trabalho interior, muitas leituras e trabalho criativo.
Retomei as costuras, aprendi a bordar. Li 31 livros e obriguei-me a conhecer outros autores graças ao desafio que me coloquei de não comprar livros; ao invés, convidar amigos a emprestarem-me livros à sua escolha. Os amigos aderiram e eu fui gostando (ou não) de cada livro à minha maneira, com diferentes intensidades; descobri escritores que me haviam passado ao lado, como Eduardo Galeano, ou de quem nunca ouvira falar como a divertida Abbi Jacobson; retomei o contacto com pessoas que andavam fora do meu radar e estreitei relações com pessoas que muito admiro.
Aqui a lista dos livros que me emprestaram para este desafio:
De resto, foi um ano calmo, sem sobressaltos de saúde. O maior desgosto foi termos ficado sem a nossa gata Kika, que perdemos para a estrada ou para outra família; nunca saberemos o que lhe aconteceu. Um dia estava aqui, no outro não estava. Sem corpo nem rasto, resta-nos a imaginação e a esperança no coração.
Foi também o ano de dizermos adeus à horta. Depois de dois anos de intensa aprendizagem e comunhão com a natureza e a comunidade, chegou a altura de aceitar que precisávamos do (vasto) espaço tomado pela horta para encaixarmos outros elementos da nossa vida. Foi, provavelmente, uma das decisões mais difíceis que tive de tomar, principalmente porque a tomei sozinha, mas foi a coisa certa a fazer.
Em termos profissionais, cresci mais um bocadinho. Estou mais segura de mim, encontrei uma pessoa para me ajudar (ou terá sido ela a encontrar-me a mim?), e dei a minha primeira palestra work related but not only numa conferência para tradutores, que teve uma receção muito para lá dos meus sonhos.
No último trimestre do ano, fiz um retiro que me ajudou a encontrar a palavra que quero que defina o meu 2020: paixão. O facto de ir fazer 40 anos em 2020 pode ou não ter influenciado a escolha da palavra; não consigo deixar de sentir que estou perigosamente a chegar a meio da vida. Tenho pensado bastante no que ando aqui a fazer, no tempo que ainda tenho, no que quero fazer da segunda metade da minha vida, onde e com quem não quero desperdiçar o meu tempo. Talvez seja parvo isto, chegar aos 40 e começar logo a pensar na morte. Ou talvez seja apenas um marco da vida, cuja simbologia nos faz inevitavelmente ficar alarmados com a velocidade da passagem do tempo. «Quanto tempo mais vais esperar?», é a pergunta que me martela na cabeça. Quanto tempo mais vais esperar para fazer outra tatuagem, para escrever um livro, para ires ao Boom, para viajares mais, para aprenderes, para ensinares, para partilhares, para te apaixonares? Não quero esperar mais. Assim de repente, Janeiro parece-me um excelente mês para acabar com a espera.
Bom ano.