Acho que a primeira vez que ouvi falar de hortas urbanas foi no livro No Impact Man, do Colin Beavan, já lá vão uns bons anos. Estava em linha com o estilo de vida saudável que aspirávamos. Ao longo da nossa jornada a dois, eu e o Tiago temos vindo a alterar muito o nosso estilo de vida. De fumadores com uns bons quilos a mais, deixámos de fumar quase ao mesmo tempo, fomos perdendo peso (por motivos de saúde, de forma mais ou menos sistemática, com mais ou menos percalços), ganhando gosto pela actividade física e treinando o paladar de forma mais consciente. No meio disto tudo, trouxemos duas crianças ao mundo, a quem tentamos incutir o mesmo gosto por uma alimentação saudável e actividades ao ar livre. Com mais ou menos sucesso, a verdade é que as nossas filhas são, das crianças que conheço, as que mais comem coisas verdes com prazer ou, pelo menos, sem reclamar muito, e que estão menos vezes doentes. Acho difícil não haver relação entre as duas coisas.
Foi assim que surgiu a ideia de nos candidatarmos às hortas urbanas – ainda vivíamos nós na cidade. Na altura, não fomos bem-sucedidos, porque entre o dizer e o fazer demora muito tempo e acabámos por sair da cidade antes que as hortas urbanas arrancassem. Já em Sesimbra, só depois de 3 anos de cá estarmos, é que ouvimos falar do projecto da Câmara em alargar as hortas, não urbanas, mas solidárias que já havia na Quinta do Conde para mais perto de nossa casa. Como é óbvio, concorremos, não sem antes nos sentarmos de frente um para o outro e termos uma daquelas conversas sérias:
– Tens a certeza?
– Eu tenho, e tu?
– Estamos nisto juntos.
– Prometes?
Há duas semanas soubemos que tínhamos ganho um talhão. E este sábado foi a inauguração oficial das hortas, com entrega das chaves e sessão de esclarecimentos. Conseguimos também lugar na formação subsidiada pela Câmara que vai, bem espero, assegurar o sucesso desta investida. Vai ser um Novembro duro, com formação contínua ao fim-de-semana, mas é algo de que precisamos mesmo muito – caso contrário, corremos o risco de desistir por desconhecimento da prática.
Muitos nos perguntam como vamos nós ter tempo para conseguir encaixar um projecto destes na nossa rotina. A verdade é que não sei. Mas, como tudo na vida, é uma questão de prioridades e para as prioridades arranja-se sempre tempo. E como ainda não podemos começar a trabalhar a terra porque o sistema de rega ainda não está operacional, ocupamos o nosso muito tempo livre com os meios de divulgação deste nosso projecto. Temos um blog, uma página de Facebook e um perfil no Instagram (quem quiser perceber o nome, pode ver aqui a definição do termo pexito). Queremos ir partilhando convosco fotos, receitas, conhecimentos, desabafos. Para vos animar, quem sabe, a terem a vossa própria horta, no quintal, na varanda, no parapeito da janela. Não se esqueçam, eu nem um cacto conseguia manter vivo. E agora vou mesmo andar de galochas a trabalhar a terra.
Obrigada, Colin.