Sucesso do dia

Que Buda me perdoe, mas hoje matei um gafanhoto.

Isto pode parecer parvo, cruel, desumano, ridículo, e sei lá mais o quê, mas para mim é assim como o homem ter ido à lua: um grande passo. Hoje, eu estiquei a perna e matei um gafanhoto com o pé. Claro que era um gafanhoto minúsculo, assim tipo este aqui:

mas nas fobias o tamanho do objecto fóbico é pouco relevante. O objecto fóbico existe, está lá, e o que se faz é fugir a sete pés. Ou desatar aos gritos. Ou desmaiar. Nem pensar em tocar nele, nem mesmo com a sola do sapato. Além de que, para quem não tem pernas biónicas, isto implica uma proximidade suficiente para poder esticar a perna e esmagar o bicho.
Portanto,
1) eu não fugi, gritei, desmaiei quando o vi a saltar,
2) eu voltei atrás,
3) eu tive-o debaixo do meu pé,
4) eu sorri, sobrevivi, não morri do coração.

O que vocês não sabem é que eu ando a tratar esta fobia. E quatro sessões depois, acontece isto. Este foi o terceiro encontro com mini gafanhotos depois de ter começado a terapia. Consegui inclusivamente pegar num mais pequeno ainda do que o da foto, que estava dentro de uma alface, mas assustei-me de morte quando ele saltou e deixei de o ver. Ainda assim não gritei, não fugi, não desmaiei. É claro que não sei qual teria sido a minha reacção se fosse um gafanhoto médio ou grande, mas não quero agora pensar nisso. Um passo de cada vez, um gafanhoto esmigalhado de cada vez (desculpa lá, Buda). A verdade é que eu não o queria matar. Eu não mato bichos, não mato aranhas, não mato traças, só as formigas se me atacarem a despensa. Mas, naquele momento, precisei de provar algo a mim própria, por muito cruel que pareça. E provei: que somos capazes de tudo se a isso nos dispusermos.

(Falarei desta terapia mais tarde, no dia em que conseguir ter um gafanhoto de estimação. Ou, pronto, vá, que ver um gafanhoto seja igual a ver uma mosca. É possível, ou não?)

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5 comentários

  1. Tem piada! Eu também tenho uma fobia com pássaros (acho que já tinha dito), mas nunca fiz terapia nenhuma, mas sei claramente que estou melhor… muito melhor. Eu não entrava num espaço fechado com pássaros à solta e ontem entrei e nem me encolhi (era uma visita oficial com directora de uma delegação regional e blá blá blá). Por isso estou muito melhor, mas continuo incapaz de tocar num pássaro, esteja ele morto ou vivo. Matá-lo está fora de questão… nem sequer gosto de os ver mortos… Noutro dia entrei em casa e estava um morto no chão (deve ter entrado pela chaminé) e tive que o apanhar e custou-me horrores… foi com o braço esticado e vassoura e pá daquelas de pega alta, a olhar de esguelha e coloquei logo o saco no contentor da rua, porque se não ficava a imaginar o tempo todo o pássaro ali morto a reganhar vida e eu sozinha em casa….

    1. Sei bem o que isso é. Quando uma fobia chega ao ponto em que nos condiciona a vida e nos impede de fazermos coisas de que gostamos, então está na altura de a tratar. Foi o que senti e resolvi fazer algo 😉

  2. Ahahah….é muito pior ficar com quitina na sola do sapato do que deixá-lo pular :)…. na 3-f eu e Irina vimos um no vidro da escola e lembramo-nos de ti:)…. é portanto um ” animal” que te caracteriza :)… não mates o gafanhoto, mata só a fobia :)! Beijinhos😜

  3. Eu tb me farto de matar moscas , não porque tenha fobia mas pq são muito chatas …. percebo esse instinto 😜!

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