A questão que se coloca agora é: o corvo é um corvo ou o corvo é uma gralha?
O tio João, versado em várias artes desde música a ornitologia, afirma a pés juntos que o corvo Rafael não é um corvo, não senhor, o Rafael é uma gralha, que vive no quintal de um tal Luís (é só ali ao lado) e costuma visitar vários quintais freguesia fora, onde lhe dão de comer. Ora, nunca me tinha passado pela cabeça que o corvo afinal fosse uma gralha. Podia ou não não saber que as gralhas são tão parecidas aos corvos. Na verdade, agora que, contra a minha vontade, me dediquei à ornitologia percebo que pouco sei sobre corvídeos. Ou pássaros, no geral. Por exemplo, aquilo que sempre me pareceram melros a sobrevoar o meu jardim são, afinal, gralhas-de-bico-vermelho. Numa pesquisa exaustiva e, agora, menos tendenciosa, percebi que, de facto, gralhas e corvos dificilmente se distinguem perante olhos desconhecedores. A ser verdade que se trate de uma gralha e não de um corvo, poderei voltar a sair à rua sem antes apurar o ouvido e inspeccionar todos os telhados das redondezas. Afinal, de ataques vingativos de gralhas não reza a História, só mesmo a língua portuguesa!
(O tio João também acha que os corvos não são nada sinal de mau presságio, mas que disparate, se até figuram na bandeira de Lisboa!)