Ontem reencontrei algumas amigas do tempo da faculdade que não via há muitos anos (mentira, encontrei duas delas ainda este ano, mas não foi o suficiente para deixar a sensação de que mantemos o contacto). Antes que mo dissessem a mim, apressei-me a dizer eu: “ia dizer-te que estás igual, mas não estás, não podes estar igual”.
Quando as pessoas nos dizem que estamos iguais ao que éramos há dez ou quinze anos atrás é uma espécie de insulto. Pelo menos foi o que senti quando regressei a Berlim oito anos depois de ter partido e reencontrei alguns amigos que olharam para a minha franjinha, que por acaso decidira cortar tal como a usava em Berlim, e acharam que tudo se resumia ao aspecto físico. Mas até aí se enganaram, pois na altura era roliça, não fazia desporto, fumava, tinha a pele baça e agora sou o oposto, francamente melhor, com um aspecto mais saudável, pelo menos. Para não falar em tudo o resto, no meu interior, na pessoa que sou hoje que é tão diferente da pessoa que veio de Berlim em 2007. Muito mais calma, muito mais confiante, muito mais feliz.
Dizerem-me, assim, que estou igual ao que era nos tempos da faculdade (há 16 anos), é um insulto a dobrar. Uma espécie de Big Mac dos insultos. Se a diferença entre eu-agora e eu-quando fui para Berlim é enorme, então a diferença entre eu-agora e eu-estudante universitária é colossal. Uma espécie de muralha da China intransponível, uma fronteira entre dois países totalmente opostos, o quente e o frio, o belo e o feio. Mas deixemo-nos de metáforas. A vida, a maturidade, o amor, a maternidade, seja o que for – ou tudo junto – que me tenha acontecido nestes anos e me tenha mudado para sempre, tornou-me numa pessoa muito mais feliz, ou simplesmente feliz, para sermos práticos. Não, não estou igual. Mas estou muito melhor, obrigada.